A Inspeção-Geral das Atividades em Saúde (IGAS) concluiu as investigações às 12 mortes registadas durante greves dos técnicos de emergência pré-hospitalar no outono de 2024 e em três delas associou os óbitos ao atraso no socorro.
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As greves dos técnicos de emergência pré-hospitalar do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM), em outubro e novembro do ano passado, agravaram os atrasos nos atendimentos.
Nesse período, foram registadas pelo menos 12 mortes que levaram a IGAS a abrir inquéritos para apurar eventuais relações entre os atrasos no socorro e os óbitos.
Homem de 84 anos morre em Mogadouro
A morte de um homem em Mogadouro, Bragança, durante a greve do INEM, poderá estar relacionada com o atraso no atendimento pelo Centro de Orientação de Doentes Urgentes (CODU).
"O atraso no atendimento telefónico por parte do CODU poderá ter tido uma influência significativa no desfecho final da vítima, após ter ocorrido uma situação de engasgamento", refere a IGAS em comunicado sobre as conclusões do inquérito à morte de um homem de 84 anos a 2 de novembro de 2024, quando decorria uma greve do INEM.
Homem de 95 anos morre em Matosinhos
A IGAS identificou falhas no atendimento de chamadas pelos CODU, mas não estabelece uma relação de causalidade entre estas e a morte de um idoso em Matosinhos durante a greve do INEM.
"Concluiu-se que o CODU não atendeu as chamadas de pedido de auxílio e não efetuou "callback" [devolução de chamada perdida], o que atrasou o auxílio à vítima", lê-se num comunicado da IGAS sobre as conclusões do inquérito à morte de um idoso de 95 anos em Matosinhos, a 4 de novembro de 2024.
No entanto, "não é possível o estabelecimento de nexo de causalidade entre esse atraso e o desfecho fatal, tendo a peritagem médica referido que numa paragem cardíaca, em doentes com idade superior a 90 anos, a taxa de sobrevida é reduzida e o desfecho seria provavelmente semelhante mesmo em condições otimizadas", concluiu a IGAS.
Mulher de 73 anos morre em Montemor-o Velho
A IGAS concluiu não haver uma relação de causalidade entre o atraso no atendimento de uma chamada pelo INEM e a morte de uma mulher de 73 anos em Montemor-o-Velho em 4 de novembro de 2024.
Afirma que "não é possível o estabelecimento de um nexo de causalidade entre a demora no atendimento da chamada de socorro pelo CODU [Centro de Orientação de Doentes Urgentes] e o desfecho fatal".
Homem de 86 anos morreu de enfarte em Bragança
A IGAS concluiu que, após o INEM demorar uma hora e 20 minutos a chegar, o utente poderia ter sobrevivido se o socorro fosse imediato, mas não culpou trabalhadores.
Considerou que o utente, que morreu de enfarte de miocárdio, tinha uma probabilidade de sobrevivência, embora reduzida. Esta probabilidade de sobrevivência "estaria sempre condicionada à realização de manobras de suporte básico de vida, quando iniciadas no imediato".
O utente em causa tinha diversas comorbilidades e antecedentes de patologia cardiovascular significativa.
Apesar da falta de resposta atempada por parte do INEM, a IGAS diz que "não é possível formular-se juízos de culpabilidade na conduta dos trabalhadores dos CODU [Centro Operacional de Doentes Urgentes], atendendo ao volume de chamadas em espera, reencaminhadas pela Linha 112".
Mulher de 74 anos morreu em Almada
Apesar da demora do atendimento das chamadas por parte do CODU, bem como a falta de ambulâncias disponíveis das corporações de bombeiros voluntários de Almada e de Cacilhas, a IGAS concluiu não haver nexo de causalidade entre o atraso no atendimento e a morte, uma vez que, "face à lesão cerebral irreversível, a utente não era salvável".
Mulher de 93 anos morreu em Tondela
A IGAS concluiu que, apesar da demora entre o atendimento das chamadas e o acionamento dos meios de socorro, por parte do CODU, "não existe nexo de causalidade" entre o atraso do INEM e a morte da utente, a 2 de novembro de 2024.
Diz a inspeção-geral que seria "muito pouco provável" que qualquer manobra mais atempada tivesse qualquer hipótese de sucesso, dados os antecedentes de "patologia cardiovascular significativa" da utente.
Homem de 53 anos morreu em Pombal
A IGAS concluiu que a morte do utente, a 4 d enovembro, poderia ter sido evitada caso tivesse havido um socorro, num tempo mínimo e razoável, que tornasse possível o transporte da vítima, através de uma Via Verde Coronária, para um dos hospitais mais próximo, onde poderia ser submetido a angioplastia coronária numa das respetivas Unidades Hemodinâmicas.
O relatório foi remetido ao INEM, para que o conselho diretivo decida sobre a instauração de um procedimento disciplinar a uma técnica de emergência pré-hospitalar (TEPH), por haver indícios de falha no socorro, e sobre a manutenção da prestação de serviços a um médico, pela "gravidade dos factos praticados na prestação de socorro à vítima".
Mulher de 86 anos morreu em Castelo de Vide
A IGAS concluiu que, apesar do tempo decorrido entre o contacto telefónico com a Linha 112 e a chegada do socorro diferenciado ao local (uma hora e 19 minutos), a morte da utente, a 4 de novembro, deveu-se a extenso acidente vascular cerebral (AVC) hemorrágico, "situação de muito mau prognóstico, independentemente do tempo levado a iniciar manobras de reanimação". O processo foi arquivado.
Homem de 77 anos morreu em Vila Real de Santo António
A IGAS concluiu que a morte do utente, a 4 de novembro, se deveu a cardiopatia isquémica aguda - enfarte agudo do miocárdio. Considerou que o desfecho fatal "era irreversível" já que as manobras de reanimação cardiorrespiratória deveriam ter sido efetuadas de imediato ou, num intervalo de tempo de 5/10 minutos.
Apesar do tempo decorrido entre o contacto telefónico com a Linha 112 e a chegada do socorro diferenciado ao local (35 minutos), a inspeção-geral diz que não houve nexo de causalidade entre o momento da chamada para a Linha 112 e o desfecho fatal verificado, pois entre o acionamento do meio mais próximo e a chegada ao local se ultrapassaria sempre mais do que dez minutos. O processo foi arquivado.
Homem de 73 anos morreu em Vendas Novas
A IGAS rejeitou uma relação direta entre a morte do utente de Vendas Novas, no dia 31 de outubro de 2024, e o atraso no socorro, explicando que as probabilidades de sobrevivência "seriam bastante limitadas, quase nulas, atento o quadro clínico do utente".
Homem de 90 anos morreu em Pombal
Também neste caso foi rejeitado pela IGAS qualquer nexo de causalidade entre a demora no atendimento da chamada de socorro pelo Centro de Orientação de Doentes Urgentes e a morte do utente, a 4 de novembro.
A IGAS considerou que as probabilidades de sobrevivência deste homem, de 90 anos, "seriam semelhantes, mesmo em condições otimizadas".
Homem de 95 anos morreu em Ansião
A IGAS concluiu também não ser possível estabelecer nexo de causalidade entre a demora no atendimento da chamada de socorro pelo CODU e o desfecho fatal, alegando que a peritagem médica referiu que, numa paragem cardíaca em doentes com idade superior a 90 anos, a "taxa de sobrevida é reduzida e o desfecho seria provavelmente semelhante, mesmo em condições otimizadas".