Em Portugal, 9,9% das mulheres com mais de 18 anos sofrem de incontinência urinária. Entre muitos doentes há fatores comuns: idade avançada, baixa escolaridade e baixos rendimentos, revela um estudo da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto.
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A incontinência urinária acaba muitas vezes por ser descartada como um problema comum. Em vez de aconselhar as pessoas a procurarem por um médico, a publicidade convence–as de que basta comprar fraldas para resolver esta condição. É preciso mudar esta visão.
Nas palavras de Francisco Cruz, investigador da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), “é importante acabar com o conceito de que este é um problema normal”, defendeu à Lusa, tendo realçado ainda a importância de uma melhor transmissão de informação.
Apesar de não ser fatal e de poder ser tratada, a doença piora a qualidade de vida das pessoas. O investigador reforçou a ideia de que “muitas pessoas vivem miseravelmente, vivem isoladas e sentem-se estigmatizadas”.
Francisco Cruz foi um dos autores de um estudo realizado pela FMUP e adiantou que 9,9% das mulheres portuguesas com mais de 18 anos sofrem desta doença renal. Mas a investigação concluiu ainda algumas das principais causas que levam à evolução da incontinência urinária.
Baixos rendimentos e baixa escolaridade são os fatores que mais saltam à vista neste estudo, estando também a idade do doente relacionada. Depois de serem analisadas mais de 10 mil mulheres, os resultados apontam para o aumento da idade como um dos fatores preponderantes, com cerca de 29% de mulheres entre os 75 e os 85 anos a sofrerem desta condição.
O estudo realizado por Margarida Manso e Francisco Cruz aborda ainda situações, tais como constatar que piores rendimentos afetam 14,4% das mulheres e o baixo nível de escolaridade atinge 28,2%.
Para estas mulheres os tratamentos traduzem-se numa maior dificuldade de acesso a cuidados de saúde, desde medicamentos a meios de prevenção. São fatores que acabam por influenciar os níveis de proteção e a rapidez dos tratamentos.
Ao JN, Francisco Cruz adiantou que querem iniciar o processo de procura de fundos financeiros para explorar o porquê de “diferentes grupos socioeconómicos terem respostas distintas à incontinência".
Medidas urgentes por aplicar
O professor e investigador da FMUP alerta para a urgência de aplicação de medidas que melhorem os cuidados destas mulheres. “A implementação de políticas de saúde pública capazes de promover a continência urinária, e de aumentar a sensibilização da população, dos clínicos e dos decisores políticos” são algumas das sugestões que deixa em comunicado.
A solução pode estar na educação. Investindo na formação das pessoas é possível promover um estilo e práticas de vida mais saudáveis, mas também a capacidade de reconhecer mais cedo os sintomas associados à incontinência urinária.
Além da prevenção, o professor destacou como prioridade o acesso mais rápido a consultas. No seu entender, não é aceitável que "na Europa, a média de espera para primeira consulta chegue a dois anos”.
É também um dos signatários do Manifesto "An Urge to Act", um documento que reúne medidas neste sentido e que foi divulgado em novembro numa conferência europeia dedicada a este tema. Francisco Cruz destacou ao JN que “programas políticos com tratamento eficaz” são urgentes.
O Dia Mundial da Incontinência Urinária celebra-se esta quinta-feira e com ele os autores reclamam por “cuidados de saúde precoces, reembolsos das despesas e mudanças a nível laboral”.
Mais mulheres afetadas
Por que razão a incontinência urinária afeta mais as mulheres? Define-se como a perda involuntária de urina. Afeta maioritariamente o sexo feminino por questões anatómicas. Por cada 3 mulheres, um homem sofre desta condição renal, na faixa etária dos 45 aos 65 anos.
Além da anatomia do sistema urinário feminino tornar as mulheres mais vulneráveis, situações como a gravidez, parto e menopausa também contribuem para o desenvolvimento deste problema. Os canais que transportam a urina da bexiga para a uretra são mais curtos na mulher do que no homem, tornando a distância entre a bexiga e a uretra também mais curta. Esta característica dificulta o trabalho dos músculos da zona pélvica e que estes consigam parar o fluxo de urina.
Existem outras causas como excesso de peso, obstipação, dano dos nervos, cirurgia, ingestão de determinados medicamentos, infeções, entre outros.
A investigação realizada revelou que as mulheres com incontinência urinária “têm mais doenças associadas, especialmente do foro cardiovascular, respiratório e mental". Estão ainda relacionados outros problemas como “a hipertensão, a obesidade e a diabetes, mas também a depressão, dificuldades de concentração e sentimentos de inutilidade e de culpa”.