A Autoridade Nacional do Medicamento deferiu o pedido de programa de acesso precoce para 50 doentes com carcinoma da mama triplo negativo. "É sem dúvida uma vitória, mas mantém-se a discriminação no acesso aos cuidados de saúde", entende Vera Almeida, que há meses hipotecou a casa para fazer o tratamento num hospital privado.
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Cinquenta doentes com cancro do mama do tipo triplo negativo poderão, por fim, ter acesso a um tratamento de imunoterapia com pembrolizumab através do SNS. Trata-se de um fármaco inovador que melhora as hipóteses de sucesso na luta contra a doença. O Infarmed notificou, na quarta-feira, uma das doentes que aguardava resposta em relação a um programa de acesso precoce (PAP) pendente, dando conta de que o pedido tinha sido alvo de reanálise e consequentemente aprovado. No site do Infarmed, pode ler-se que a decisão foi tomada a 5 de abril.
Antes, a 21 de março, o JN noticiou casos de várias doentes com este tipo de carcinoma que continuavam sem acesso ao tratamento através do SNS. Note-se que a Agência Europeia do Medicamento (EMA) aprovou a utilização deste fármaco para doentes com cancro da mama triplo negativo há cerca de um ano e que a Autoridade Nacional do Medicamento tinha dado resposta negativa a um primeiro pedido de PAP, em julho do ano passado.
Enquanto isso, várias doentes desesperavam, ora por não terem acesso ao tratamento, ora por terem de se deslocar ao estrangeiro para o fazer, ora por terem de desembolsar quantias avultadas para poderem ser tratadas. Foi o caso de Vera Almeida, que se viu obrigada a hipotecar a casa para suportar os cerca de 100 mil euros cobrados pela Fundação Champalimaud, onde se encontra a fazer o tratamento.
Agora que o PAP foi finalmente deferido, Vera, que também no mês passado fez chegar à Assembleia da República uma petição pela aprovação do medicamento, entende que a decisão tem um sabor agridoce.
Vitória com sabor agridoce
"É sem dúvida uma vitória e o primeiro passo para a completa aprovação no SNS. Mas o tratamento continua limitado a um número de doentes, neste caso 50, mantendo-se a discriminação no acesso aos cuidados de saúde. E doentes com metástases não poderão receber o fármaco, apesar de terem tumores mais avançados e graves, porque o PAP para estes não foi ainda autorizado."
Na indicação terapêutica que consta da notificação da aprovação do PAP, pode ler-se que este "está indicado para o tratamento de adultos com cancro da mama triplo negativo localmente avançado ou em estádio precoce com elevado risco de recorrência", estando por isso excluídos os doentes com cancro no estádio quatro (metástico). Por isso, Vera promete não baixar os braços: "Vamos manter-nos ativos nesta luta na busca por igualdade de cuidados para todos."