Saídas de amoxicilina também sujeitas a notificação prévia. Autoridade do Medicamento justifica decisão com aumento da procura devido a maior incidência de infeções respiratórias.
Corpo do artigo
As vendas para o estrangeiro de determinados fármacos tendo como substâncias ativas paracetamol (antipiréticos), ibuprofeno (anti-inflamatórios) e amoxicilina e azitromicina (antibióticos) estão, desde o dia 15, sujeitas a notificação prévia à Autoridade Nacional do Medicamento (Infarmed). Na sua deliberação, aquela autoridade justifica a inclusão daqueles fármacos com "o atual período de elevada procura de cuidados de saúde e, em particular, de grande incidência de infeções respiratórias". Provocando um "aumento do consumo no mercado nacional". Nomeadamente, formulações pediátricas.
Consultando a lista de novos medicamentos cuja exportação está sujeita a notificação, verifica-se que a maioria dos que contêm paracetamol e ibuprofeno se apresenta sob a forma de xaropes e de supositórios, destinados a crianças. Cruzando com a listagem de medicamentos em rutura, constata-se que alguns daqueles fármacos estão temporariamente indisponíveis, por motivo de aumento de procura ou problemas de fabrico.
Sendo que há fármacos similares disponíveis. "No momento atual, a substância ativa ibuprofeno suspensão oral (xarope) tem em comercialização seis apresentações de 20mg/ml e duas de 40mg/ml", enquanto a amoxicilina em xarope tem "duas apresentações de 250mg/5ml e três de 500mg/5ml", explica, ao JN, o Infarmed. Confirma, ainda, o "aumento de faltas destas apresentações [pediátricas de paracetamol e ibuprofeno]", tendo "conhecimento de dificuldades de abastecimento destes fármacos na generalidade dos países europeus e também, por exemplo, nos EUA e no Canadá, que se verifica desde novembro".
Saída só com aval
A monitorização das transações de medicamentos para o exterior é um mecanismo de que o Infarmed dispõe para assegurar o fornecimento, permanente e diversificado, de fármacos no nosso país. A inclusão na lista de notificação prévia pondera critérios como a "percentagem de consumo satisfeita" ou "o número de faltas notificadas e a relação entre exportações e faltas".
As vendas para o exterior "não estão perentoriamente proibidas", mas, em "em função da realidade do mercado", o Infarmed avalia "a sua aprovação ou não".
A procura em crescendo dificulta a gestão dos stocks nas farmácias. O bastonário dos farmacêuticos explica que, "todos os anos, no hemisfério Norte, há esta pressão de aumento de consumo", agravada este ano por um "conjunto acrescido de problemas". Além da maior incidência de infeções respiratórias, Hélder Mota Filipe identifica a "limitação no acesso a algumas matérias-primas". A que se junta "o mecanismo de preços em Portugal, feito por baixo", levando algumas empresas a retirarem os fármacos do mercado.
Pressão nas farmácias
Fatores que fazem com que "possamos correr o risco de termos menos medicamentos no mercado". Contudo, vincou o bastonário e antigo presidente do Infarmed, "à data de hoje [quinta-feira], não há identificação de falta de medicamentos no mercado, mas de dificuldades temporárias de garantir a procura", que se "repõe nalgumas horas".
Os mesmos fatores são identificados pela vice-presidente da Associação de Farmácias de Portugal. "Neste ano, existem muitos outros tipos de infeções que levam as pessoas às consultas e a um aumento de procura desses medicamentos: antibióticos, antipiréticos, anti-inflamatórios", explica Manuela Pacheco.
Lembrando que há "quotas de produção", aquela responsável refere situações de "utentes que vão à farmácia com seis unidades prescritas e querem a receita toda", quando antes compravam uma caixa. "Tentamos demover as pessoas, porque contribui para que outros possam não ter nada", alerta.
Propostas
Rever preços e agilizar relação entre farmacêutico e médico
Farmacêuticos e farmácias alertam para o mecanismo de formação de preços em Portugal. Por um lado, devido ao facto de se manterem baixos, levam algumas "companhias a retirarem os medicamentos do mercado", explica o bastonário Hélder Mota Filipe. Por outro lado, prossegue Manuela Pacheco, "os preços são de tal maneira irrisórios que o utente não quer saber se tem desconto ou não". Defendendo a vice-presidente da Associação de Farmácias de Portugal a "rápida revisão dos preços dos medicamentos, um dos fatores apontados para a rutura de muitas moléculas". A Ordem dos Farmacêuticos reivindica, ainda, "uma maior capacidade de comunicação eletrónica entre farmacêuticos e médicos". Criando-se "mecanismos protocolados para o farmacêutico saber o que fazer, se não houver um medicamento, e o médico" ser informado.
A saber
32 medicamentos
correspondem aos novos fármacos sujeitos a notificação prévia ao Infarmed desde meados deste mês: 15 têm como substância ativa o paracetamol, nove o ibuprofeno, cinco a amoxicilina e três a azitromicina.
0,66% de consultas
por gripe. Na semana passada, de acordo com a Direção-Geral da Saúde, observou-se um aumento da proporção de consultas por síndrome gripal nos cuidados de saúde primários, respondendo por 0,66% do total.