Hospitais com procura excessiva. Acréscimo de casos de vírus sincicial respiratório. Internamentos cheios, sobretudo com crianças mais pequenas.
Corpo do artigo
Às urgências de pediatria do Hospital de S. João, do Centro Materno-Infantil do Norte e do Centro Universitário Hospitalar de Coimbra não param de chegar crianças com quadros de infeção respiratória. Nomeadamente de vírus sincicial respiratório (VSR), que afeta sobretudo bebés, respondendo por grande parte dos internamentos, cheios. Uma procura excessiva para esta altura do ano e que poderá estar relacionada com a perda de imunidade associada aos confinamentos destes dois últimos anos de pandemia.
No S. João, o diretor da Urgência Pediátrica confirma, ao JN, uma "procura muito excessiva, principalmente nesta semana". Registando todos os dias "mais de 300 episódios, quando num inverno normal seriam 260 a 270 doentes nesta fase", diz Ruben Rocha.
Tudo devido ao "excesso de infeções respiratórias, com vários vírus a circular: adenovírus, rinovírus, VSR, influenza, parainfluenza". Sendo que, sublinha, "a maior parte são ligeiros a moderados e não deveriam recorrer à urgência".
Cenário que se repete no CMIN, com o diretor Caldas Afonso a avançar um "aumento da procura na resposta a doença aguda no serviço de urgência muito acentuada". Números que só observou "nos picos endémicos destas infeções mais no final de dezembro, janeiro e fevereiro". Com os dois anos da covid a baralhar a sazonalidade: "Há uma mudança de paradigma na incidência de infeções a que estamos habituados; este ano, em agosto e setembro, meses calmos por norma, o internamento esteve sempre repleto".
E assim se mantém, sobretudo "com crianças mais pequenas, lactentes, abaixo de um ano de idade". Da perceção que tem, registam "vários casos de crianças com bronquiolite por VSR". Situação idêntica regista-se no CHUC, com a diretora clínica do Serviço de Urgência Pediátrica (SUP) a identificar um "predomínio dos primeiros anos de vida" na unidade de internamento de curta duração. Contudo, explica Fernanda Rodrigues, a ocupação tem sido a "habitual nos períodos epidémicos de infeções respiratórias". No S. João, Rúben Rocha diz que "os internamentos têm estado cheios, mas num nível normal, sem aumento da gravidade", sobretudo com "casos mais complexos", por ser um hospital de fim de linha.
Também no SUP de Coimbra se observou, em outubro, "um aumento da afluência", acréscimo que "acontece todos os anos nos períodos de epidemias causadas por vírus respiratórios, havendo alguma variabilidade de ano para ano na sua dimensão e no mês em que se inicia". Adiantando Fernanda Rodrigues um "acréscimo de casos de infeção por VSR, adenovírus e também por vírus da gripe".
Efeitos da pandemia
O acréscimo de casos por uma eventual perda de imunidade devido aos confinamentos é uma hipótese que ninguém exclui. "A dimensão poderá vir a ser maior do que o habitual, por menor imunidade para esses vírus, mas não sabemos como e se tal irá acontecer", vinca a diretora do SUP do CHUC.
Já Caldas Afonso lembra que "passamos por um período longo de medidas muito restritivas e tudo o que é a estimulação mantida e gradual que cria imunidade" acabou por não se desenvolver "como normalmente era expectável". E ao levantamento das restrições sucedem-se "mais contactos, levando a uma partilha mais frequente de vírus", conclui Rúben Rocha.