Na primeira vaga da pandemia, 1,9% da população, cerca de 195 mil pessoas, terá tido contacto com o vírus ARS-CoV-2, desenvolvendo, assim, anticorpos contra a covid-19. São três vezes mais pessoas do que o número de positivos à data do estudo: 63 mil.
Corpo do artigo
A prevalência é tanto menor quanto maior a idade. E tanto maior quanto maior a densidade populacional e a dimensão do agregado familiar. São as conclusões do Painel Serológico Nacional desenvolvido pelo Instituto de Medicina Molecular João Lobo Antunes (iMM).
13151308
Partindo de uma amostra de 13.398 voluntários, os investigadores do iMM apuraram uma seropositividade de apenas 1,9% até setembro passado. Mas que chega aos 2,5% nas regiões de alta densidade populacional - no caso, Grande Porto e Grande Lisboa, as estudadas. Proporção que cai para os 1,2% nas zonas de baixa densidade.
Posta de parte a imunidade natural de grupo - com graves impactos na mortalidade, revelando-se já uma estratégia falhada na Suécia, hoje com a quinta maior incidência da Europa -, os resultados agora alcançados são "positivos", explica, ao JN, o vice-diretor do iMM.
"É uma descoberta positiva para o país. Portugal portou-se de forma exemplar, achatando bem a curva", frisa Bruno Silva-Santos. Até por contraponto à vizinha Espanha, cujo estudo serológico calculou uma prevalência de 5,2%, dez vezes superior ao número de infetados diagnosticados. O que significa que quanto maior a diferença entre a prevalência e o número de infetados, maior é o número de assintomáticos e de não diagnosticados a circular.
No caso português, a prevalência de covid-19 na população é o triplo do número de positivos à data do estudo (cerca de 63 mil). Mas não se podem fazer extrapolações para a segunda vaga, uma vez que agora há mais testes.
Atenção aos jovens
Numa análise aos grupos etários, a prevalência é maior nos mais novos (2,2% abaixo dos 18 anos) e menor nos mais velhos (1,7% acima dos 54 anos). Calculado o contacto com o vírus por jovens do Porto e Lisboa, chega-se a uma prevalência de 3,2%, contra 0,34% nas zonas de baixa densidade.
Seropositividade essa tanto maior quanto maior for a dimensão do agregado. E se, nestas famílias, alguém foi diagnosticado com covid-19, então a prevalência sobe para 27%, contra 1,1% nos que não tiveram nenhum familiar infetado. O que serve de aviso para as celebrações de Natal e de Ano Novo que se aproximam. "O agregado é um local privilegiado para haver transmissão. Estando os jovens numa posição complicada, porque não sofrem muito com a doença, mas são transmissores".
Ou seja, frisa Bruno Silva-Santos, urge nesta época natalícia "proteger os grupos de risco". Protegendo-os do "grupo que entrou mais em contacto com o vírus, que foram os jovens", apesar do baixo diagnóstico por ausência de sintomas.
Quanto à sintomatologia, os investigadores concluíram pela perda de paladar/olfato, febre e tosse seca como os três principais sintomas. Sendo que, "quanto maiores os sintomas maiores, os anticorpos". Agora quanto tempo estarão no organismo, não se sabe. Imunidade de grupo? "Só com vacinação".
Quando e como
O Painel Serológico decorreu entre 8 de setembro e 14 de outubro, contando com 13 398 voluntários (11% acima do previsto inicialmente) de 102 municípios. Responderam a inquéritos epidemiológicos e realizaram teste dos anticorpos totais anti-SARS-CoV-2. Aqueles que deram positivo realizaram, depois, o teste anticorpos IgC. O resultado final decorre de positivo nos dois testes.
Imunidade
O Instituto de Medicina Molecular vai selecionar 2000 negativos para ver se estão positivos em janeiro, para, assim, perceber qual é a evolução da prevalência de 1,9% agora apurada. O objetivo é calcular a taxa de seroconversão no tempo. Acresce que, explica o vice-diretor Bruno Silva-Santos, vão continuar a seguir os seropositivos, com vista a avaliar a dinâmica dos níveis dos anticorpos ao longo do tempo. A resposta que muitos procuram: qual é a duração da imunidade?