O presidente da Iniciativa Liberal (IL) afirmou, esta sexta-feira, que as declarações de André Ventura e Pedro Pinto, líder e deputado do Chega, sobre a morte de Odair Moniz são graves e que o país não precisa de "políticos pirómanos".
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"Parece-me que as declarações que o próprio André Ventura e Pedro Pinto fizeram são afirmações graves. Nós precisamos de tranquilidade no país", disse Rui Rocha aos jornalistas, à margem de uma visita à Feira DecorHotel na Exponor, em Matosinhos, no distrito do Porto.
O dirigente liberal recordou que há uma situação tensa no país e, portanto, "o país não precisa de políticos pirómanos".
Comentando o facto de a Procuradoria-Geral da República (PGR) ter aberto um inquérito às declarações de André Ventura e Pedro Pinto, Rui Rocha considerou que "não há nenhum político que deva estar acima da lei".
"Eu ouvi o próprio André Ventura dizer isso em muitas ocasiões, não pode valer só para os outros, tem que valer também para ele e, portanto, parece-me natural", disse.
O presidente da IL considerou ainda que "é o próprio André Ventura que tem feito uma espécie de judicialização da política", lembrando que o líder do Chega quis acusar o Presidente da República de traição à pátria.
"Parece-me normal que os políticos não estejam acima da lei e respondam perante a lei pelos seus atos e pelas suas palavras", acrescentou.
Na opinião do dirigente liberal, as afirmações de André Ventura e Pedro Pinto são próprias de quem deseja um Estado totalitário.
"Não podemos ter uma polícia que atua indiscriminadamente porque isso é aquilo que caracteriza os Estados totalitários, aquilo que caracterizou o Estado Português nos tempos da ditadura e aquilo que caracteriza Estados como a Venezuela onde as garantias dos cidadãos não existem", assinalou.
E reforçou: "Para mim está tão errado quem diz que a polícia pode fazer tudo o que quiser e que tem sempre razão como os outros. E estou a falar, neste caso, agora do Bloco de Esquerda (BE) que diz que a polícia nunca tem razão e que há sempre motivos racistas para qualquer atuação".
Neste momento, o país precisa de serenidade, de bom senso e de sentido de Estado, disse.
Rui Rocha aproveitou ainda para lamentar a atuação da ministra da Administração Interna que acusou "de falhar" na comunicação com "apresentações titubeantes e tardias" das situações.
"O país precisa de ministros da Administração Interna que comuniquem de forma assertiva, rigorosa e que transmitam confiança aos portugueses", sublinhou.
Em causa estão declarações do líder parlamentar do Chega, Pedro Pinto, sobre os tumultos dos últimos dias relacionados com a morte de Odair Moniz, baleado pela polícia na Amadora, afirmando que se as forças de segurança "disparassem mais a matar, o país estava mais na ordem", num espaço de debate na RTP com o líder parlamentar do BE, Fabian Figueiredo.
André Ventura defendeu que o agente da PSP que baleou Odair Moniz devia ser condecorado, não condenou as declarações do seu líder parlamentar e sustentou-as com a liberdade de expressão, afirmando que Pedro Pinto "quis transmitir" que "a polícia não pode ter medo de usar as suas armas" e "isso às vezes implica matar".
O Diário de Notícias (DN) avançou hoje que um grupo de cidadãos vai apresentar queixa-crime contra estas declarações, entre eles a antiga ministra da Justiça do Governo de António Costa, Francisca Van Dunem, para quem, com estas declarações, foi "atingido um limite".
Desde a noite de segunda-feira registaram-se desacatos no Zambujal, Amadora, e, desde terça-feira, noutros bairros da Área Metropolitana de Lisboa, onde foram queimados autocarros, automóveis e caixotes do lixo.
Mais de uma dezena de pessoas foram detidas, o motorista de um autocarro sofreu queimaduras graves e dois polícias receberam tratamento hospitalar, havendo ainda alguns cidadãos feridos sem gravidade.