Alterações climáticas elevam para 63 o número de áreas em risco. A ponte 25 de Abril e o Oceanário estão entre os 215 edifícios inundáveis. Medidas da APA visam evitar o pior cenário.
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A Agência Portuguesa do Ambiente (APA) elevou para 63 o número de áreas de risco potencial significativo de inundação e identificou que 88 mil pessoas vão estar ameaçadas pelas cheias até 2040.
A cartografia das zonas inundáveis e de riscos de inundações, que foi colocada em discussão pública e está a ser debatida em seis webconferências até à próxima quarta-feira, expõe os impactos económicos, patrimoniais e sociais das inundações a que Portugal pode estar sujeito nos próximos 20 anos. Estão em risco 153 monumentos ou imóveis de interesse público e 215 edifícios onde se incluem o Oceanário de Lisboa e a ponte 25 de abril, bem como dezenas de escolas, centros de saúde, postos da PSP e GNR ou quartéis de bombeiros.
A principal preocupação centra-se nas 88 mil pessoas que a APA classifica de "potencialmente afetadas" até 2040. Das oito regiões hidrográficas, a do Tejo e Oeste é aquela que tem mais população em risco, quase 32 mil pessoas. As bacias do Vouga, Mondego e Lis, que abrangem os distritos de Aveiro, Coimbra e Leiria, seguem-se no mapa de risco das populações, com mais de 16 mil. As pessoas são "o elemento exposto mais determinante nesta estratégia" de definição de medidas para o combate das inundações, refere a resolução do Conselho de Ministros que deu origem à cartografia da APA.
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Esta cartografia traça um cenário a 20 anos, outro a 100 anos e um terceiro a 1000 anos. Na previsão para 100 anos, o número de pessoas em risco sobe para 111 mil e, na previsão para 1000 anos, anda perto dos 126 mil. A maioria das regiões de risco está situada em zona fluvial ou pluvial, o que faz com que sejam os rios, e não o mar, os principais cursos de água causadores de cheias.
"Nas oito regiões hidrográficas de Portugal Continental foram identificadas 63 áreas de risco potencial significativo de inundação, das quais 47 são de origem fluvial/pluvial e seis de origem costeira", informou a APA. Nestas 63 já se incluem as 22 áreas críticas identificadas anteriormente e que já estão a ser alvo de medidas que podem conter o efeito das inundações.
As cheias previstas nos documentos da APA podem ter origem em fenómenos como a subida do nível da água do mar, que afeta também os rios, ou a cada vez mais comum ocorrência de fenómenos de precipitação intensa e repentina. Assim, a maioria das causas das cheias justifica-se com as alterações climáticas, mas a impermeabilização dos solos também potencia a ocorrência destes fenómenos.
Nas zonas com risco significativo de inundação encontram-se 215 edifícios. A única região sem edifícios em risco é a do rio Minho e a que mais está exposta é a do Tejo e Oeste. A Lisboa Pombalina, o Oceanário ou a ponte 25 de abril estão entre os 92 edifícios ou aglomerados do Tejo Oeste que são considerados "sensíveis" ou "potencialmente afetados" por cheias nos próximos 20 anos.
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Há edifícios de serviços essenciais em risco, como a PSP e GNR de Torres Vedras, os Voluntários de Alhandra ou Lourinhã, a Câmara de Vila Nova da Barquinha ou o Centro de Saúde de Alvega, em Abrantes. Na região do Douro, é em Chaves, Peso da Régua e Vila Nova de Gaia que estão as principais ameaças. A Junta de Freguesia da Afurada a Unidade de Controlo Costeiro da GNR e a escola primária da mesma freguesia são alguns dos 26 edifícios em risco.
A APA contabilizou dezenas de escolas e edifícios de outros serviços essenciais, mas também as possíveis fontes de poluição que podem ser causadas pelas cheias e os impactos nas respetivas redes de abastecimento de água, com pontos frágeis em quase todas as regiões.
Pimenta Machado, vice-presidente da APA, explica que este é "o diagnóstico para encontrar a melhor terapia", tendo por base o lema da "prevenção, proteção e preparação". O responsável acrescenta que a APA está "a desenhar medidas para prevenir eventos extremos" de forma a "proteger pessoas e bens".