Com regras bem estabelecidas para evitar exageros verificados noutras cidades, sobretudo em Lisboa, a Invicta rendeu-se aos veículos de mobilidade suave. Bicicletas e trotinetas amigas do ambiente podem começar a circular pela cidade a partir deste mês. Restrições impostas pela Câmara são bastantes.
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São 2100 e vão passar a ocupar o espaço público do Porto não tarda. Com um regulamento apertado como base de atuação, três operadores - Circ, Hive e Bird - estão autorizados a colocar em circulação bicicletas e trotinetas elétricas na cidade. As licenças foram atribuídas em hasta pública a 11 de fevereiro. O JN apurou que em meados do atual mês de março, as empresas podem sair para as ruas e praticar a chamada mobilidade suave, uma estreia no Porto.
Há pontos de recolha e de entrega obrigatórios, horários pré-definidos, regras de circulação claramente atribuídas - é proibido, por exemplo, conduzir nos passeios. No que diz respeito a custos, para já apenas são conhecidos os preços a praticar pela Hive: 20 cêntimos por minuto para bicicletas, 15 cêntimos e uma taxa ainda não definida de desbloqueio para as trotinetas. A Circ e a Bird, que pertencem ao mesmo grupo, ainda não anunciaram o tarifário a aplicar. "Iremos anunciá-lo em breve, ainda estamos a estudá-lo", confirma Toni Riera, general manager da Bird e da Circ. "Começaremos com um número relativamente baixo de trotinetas, que depois poderá ser aumentado consoante a procura", acrescentou o responsável, que vê "grandes vantagens" para o Porto. "Podemos oferecer às pessoas uma alternativa amiga do ambiente e reduzir o tráfego automóvel e a poluição que daí advém", entende o responsável.
O regulamento dos serviços de partilha em modos suaves de transporte do Porto foi aprovado em setembro do ano passado. Uma medida que, na altura, a Câmara Municipal classificou como "pioneira a nível mundial".
"Esperamos reduzir a quota de utilização do transporte individual em deslocações diárias, garantindo uma maior sustentabilidade nas deslocações e na utilização do espaço público", explicou ao JN Urbano Cristina Pimentel, vereadora da Câmara do Porto com o pelouro dos Transportes. Isto numa cidade em que, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística, 48% das deslocações diárias se realizam de automóvel.
Caos urbano na capital
Em Lisboa, a introdução de trotinetas e bicicletas elétricas, há um ano, foi tudo menos pacífica. Operam na cidade seis empresas - chegaram a ser 11 - e são comuns os casos de veículos vandalizados ou abandonados sem critério na via pública, até mesmo atirados ao rio Tejo ou pendurados em árvores, tal como o JN noticiou na edição da passada sexta-feira. Há 5000 trotinetas disponíveis e, em média, 20 são recolhidas diariamente pelas autoridades, primeiro pela Polícia Municipal, agora pela EMEL. Contas feitas, as multas de remoção já renderam à Autarquia 70 mil euros.
Miguel Gaspar, vereador da Mobilidade, também ao JN admitiu que "a criação de locais para o estacionamento de velocípedes é uma das preocupações da Autarquia lisboeta".
"O grande problema é que a Câmara de Lisboa, ao contrário do que agora acontece no Porto, não criou regras claras de utilização. Deixou que o problema acontecesse e só depois estudou medidas para o tentar resolver", critica Rui Igreja, presidente da MUBi - Associação Para a Mobilidade Urbana em Bicicleta. "Seja como for, é bom lembrar que são 4000 as trotinetas em circulação, ao mesmo tempo que diariamente entram na cidade 400 mil automóveis", analisa.
Tentámos prevenir o abandono de viaturas de forma dispersa pela cidade. Haverá sinalização própria para os locais de pontos de partilha
Para tentar evitar os exageros verificados em Lisboa, a Câmara do Porto elaborou um regulamento restritivo, que coloca limites concretos às empresas operadoras e aos utilizadores.
"Tentámos prevenir o abandono de viaturas de forma dispersa pela cidade. Haverá sinalização própria para os locais de pontos de partilha, sendo claras as regras de circulação e parqueamento destas viaturas a nível do regulamento", explica Cristina Pimentel.
Desde logo, há locais onde o regulamento proíbe expressamente a circulação. Tais restrições estarão permanentemente em vigor em zonas de acesso automóvel condicionado, espaços destinados a veículos sobre carril, corredores BUS, túneis e ainda nas pontes da Arrábida e do Freixo, além do tabuleiro superior da Luís I. A Estrada da Circunvalação, a Via de Cintura Interna (A1, A20 e A21) e a Avenida AEP estão interditas.
A lista de impedimentos é ainda bastante específica no que diz respeito ao estacionamento. Parar em passeios, acessos rampeados, passadeiras, paragens de transportes públicos e terminais rodoviários, paragens destinadas a serviços turísticos, posturas de táxis será impossível pelas regras definidas pela Câmara do Porto. Lugares de estacionamento de duração limitada, destinados a deficientes ou a moradores são outros dos impedimentos. Os pontos de recolha, esses, são claros (ver mapa e caixa ao lado) e chegam aos 200. Conduzir em cima dos passeios está fora de questão, apenas as faixas de circulação automóvel ou as ciclovias podem ser utilizadas.
O horário do recolher obrigatório é muito limitativo, devia ir para além das 22 horas
Vera Diogo, responsável da MUBi no Porto, concorda com as restrições e acredita que a introdução de bicicletas e trotinetas partilhadas vai mudar mentalidades. "A única estranheza é que tenham surgido tão tarde. De resto, são uma excelente oportunidade para fazer com que as pessoas optem cada vez mais pela utilização deste género de veículos,", afirma.
Para a MUBi, há apenas uma ressalva a apontar: "O horário do recolher obrigatório é muito limitativo, devia ir para além das 22 horas".
Numa altura em que as questões ambientais assumem particular relevância, várias cidades portuguesas estão a autorizar a partilha de soluções não poluidoras. É o caso, por exemplo, de Faro, onde, esta terça-feira chegaram 200 trotinetas disponibilizadas pela Bolt. Matosinhos, Maia, Aveiro, Águeda, Coimbra, Guimarães, Figueira da Foz, Cascais e Setúbal são outros dos concelhos onde é possível encontrar tais alternativas.