Instituto recebeu 11.500 novos doentes de cancro no ano passado e realizou 60 mil consultas de oncologia médica. Definido como objetivo duplicar participantes em ensaios clínicos.
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No ano passado, chegaram ao Instituto Português de Oncologia (IPO) do Porto 11.500 novos doentes. Naquele que é o "segundo maior número de sempre", só sendo ultrapassado pelas quase 12 mil admissões verificadas em 2016, explica, ao JN, o seu presidente. Em níveis recorde, destaque, ainda, para o número de consultas de oncologia médica, próximas das 60 mil. Depois do impacto da pandemia, com utentes a chegarem com doença mais avançada, Júlio Oliveira afiança uma "normalização".
Em termos de patologias, dá nota de um aumento de incidência "significativo no cancro da mama", no que diz ser "uma tendência global", associada ao "sedentarismo e à abundância alimentar". Crescimento que se verifica, ainda, no pâncreas. Em sentido inverso, pulmão e cólon e reto estão a descer.
Nos blocos operatórios, o IPO do Porto realizou, no ano passado, "quase 11 400 cirurgias, o dobro do segundo maior centro em produção cirúrgica". Sublinhando Júlio Oliveira que o IPO Porto é, em consórcio com o I3S, o único Comprehensive Cancer Center do país, cuja certificação foi recentemente renovada pela Organização Europeia de Centros Oncológicos.
A explicação para um máximo de cerca de 60 mil consultas em oncologia médica está, por um lado, na "complexidade dos tratamentos", mas também "no aumento da sobrevivência dos doentes". De acordo com os dados facultados ao JN, para os 15 963 casos diagnosticados em 2015-2016, e que foram objeto de avaliação da sobrevivência corridos cinco anos, a sobrevivência foi de 65,7%.
Um caminho só possível "com o esforço gigantesco dos profissionais" de saúde, "reconhecidos internacionalmente", mas que em países "com maior poder económico têm salários várias vezes superior". O presidente do IPO Porto alerta para a "fuga de muitos profissionais", pelo que urge "remunerar de forma mais justa, mas criar também condições remuneratórias de outros âmbitos, nomeadamente de realização pessoal e profissional".
Sendo a "investigação crucial - está no coração do que é a assistência ao doente oncológico" -, aquele IPO tem como objetivo "mais do que duplicar o número de doentes em ensaios clínicos", em linha com as recomendações internacionais (10%). No ano passado, foram 450 os doentes incluídos em 158 ensaios clínicos ativos, dos quais 118 foram tratados pela primeira vez naquele contexto. Sendo as principais áreas de investigação mama, pulmão, urologia, digestivo e hematologia.
Já o Programa de Medicina de Precisão em Oncologia - pioneiro no nosso país -, dirigido não ao tumor mas à alteração genética, permitiu a realização da sequenciação genómica compreensiva em cerca de 550 doentes. Dos quais "12% a 15% tiveram acesso terapêutico". O programa, recorde-se, está aberto a doentes de todo o país e inclui a faixa pediátrica.
Peso dos tratamentos
Tratamentos que, segundo Júlio Oliveira, absorvem "quase metade do orçamento que vem do Estado". Identificando a "sustentabilidade financeira" como "grande desafio". Para se ter a noção, um tratamento com células CAR-T, que já chegou a cerca de 50 doentes do IPO Porto, anda próximo dos "300 mil euros/doente, incomportável para qualquer cidadão". Ou a imunoterapia, que permite "prolongar a sobrevivência dos doentes", nomeadamente nos casos de melanoma e cancro do pulmão.
Daí ser "estratégico", diz o presidente do IPO do Porto, que, "tendo doentes e capacidade para fazer ensaios clínicos, as organizações sejam dotadas para fazerem mais ensaios". Defende, ainda, uma maior autonomia das instituições.