O subdiretor-geral da Saúde, Rui Portugal, frisou, esta sexta-feira, que todos os anos morrem 28 mil doentes oncológicos em Portugal, exemplificando que isso corresponde às populações dos concelhos de Santiago do Cacém, de Anadia ou de Tavira, para dar alguns exemplos. Os novos projetos-pilotos para alargar o rastreio ao cancro do pulmão, próstata e estômago estão a ser desenvolvidos, disse, estando já identificadas as populações-alvo.
Corpo do artigo
Rui Portugal afirmou que se registam todos os anos cerca de 28 mil mortes por cancro, um número equivalente às populações nos concelhos de Santiago do Cacém, Anadia ou Tavira, disse no âmbito das comemorações do Dia Mundial da Luta Contra o Cancro, que tiveram lugar no Infarmed, em Lisboa. Estima-se que sejam diagnosticados 60 mil novos casos anualmente, em Portugal apontou. Por outro lado, o sub-diretor geral da Saúde notou que nascem 90 mil novas crianças, pelo que o número de casos positivos corresponde a dois terços de todos os nascimentos.
Esta sexta-feira foram apresentados dados sobre os recursos de oncologia no Serviço Nacional de Saúde (SNS), os rastreios de base populacional realizados no ano passado e os novos programas de rastreio, numa sessão organizada pelo Programa Nacional para as Doenças Oncológicas (PNDO) e pela Direção-Geral da Saúde (DGS) para assinalar o Dia Mundial da Luta Contra o Cancro, que decorreu na sede do Infarmed, em Lisboa.
O médico sublinhou ainda que o cancro é a primeira causa de morte prematura em Portugal, representando, em 2013, a perda de mais de 100 mil anos de vida, um número oito vezes superior do que por infeções por VIH e uma vez e meia mais do que por doenças cardiovasculares.
Alertou, por isso, para a necessidade de existirem equipas variadas na rede de prestação de cuidados por todo o país, bem como de se reforçarem políticas de combate ao tabagismo e consumo de álcool e de promoção de hábitos alimentares saudáveis e atividade física em todas as faixas etárias.
Ainda assim, o dirigente avançou que Portugal tem uma taxa de sobrevivência ao cancro a cinco anos acima da média europeia, nomeadamente no que diz respeito ao cancro da próstata, leucemia infantil, da mama, do cólon e do pulmão, com base nos rastreios realizados entre 2010 e 2014.
Identificado público-alvo dos novos projetos-piloto
Os cancros do pulmão, próstata e estômago serão objeto de projetos-piloto de rastreio, com vista a conseguir diagnosticar precocemente estes casos, garantindo a sobrevivência à doença e diminuindo a mortalidade. Recorde-se que este alargamento foi anunciado em dezembro, alinhado com o Plano Europeu de Luta Contra o Cancro.
José Dinis, diretor do PNDO, sublinhou que o ministro da Saúde "em boa hora" tomou a decisão de abraçar a recomendação europeia para alargar o rastreio de base populacional. Por agora, afirmou que os projetos-piloto "estão a ir no bom sentido", avançando apenas que as normas para estes novos rastreios devem ser conhecidas em breve e que deverão abranger várias questões como por exemplo como serão feitas as convocatórias.
Por dia, cerca de 11 pessoas são diagnosticadas com cancro no estômago, alertou, Mário Dinis Ribeiro, acrescentando que uma em cada duas pessoas não irá sobreviver mais do que dois anos. O diretor do Serviço de Gastrenterologia do IPO do Porto sublinhou que, se os tumores forem diagnosticados precocemente, os doentes sobrevivem ao fim do tratamento para preservar o órgão, sendo este um método preferível à cirurgia.
O IPO do Porto integra, através do projeto TOGAS, um consórcio europeu na área digestiva com vários parceiros europeus para permitir alargar o rastreio de base populacional ao cancro do cólon e reto ao cancro do estômago. Mário Dinis Ribeiro avançou que por cada 200 indivíduos serão gastos 34 mil euros. Em Portugal, o rastreio destina-se a pessoas a partir dos 50 anos, começando no Minho e Trás-os-Montes, onde estão as comunidades de maior risco.
Por seu turno, o cancro do pulmão é a maior causa de morte oncológica em todo o mundo. "Estamos a perder a oportunidade de evitar estádios quatro e a morte destas pessoas", salientou Venceslau Hespanhol, diretor do Serviço de Pneumologia do Centro Hospitalar Universitário de São João. De acordo com as diretivas europeias, o rastreio será dirigido aos grandes fumadores ou ex-fumadores entre 50 e 75 anos.
Já o rastreio do cancro da próstata irá abranger todos os homens com idade superior a 70 anos. Dada a heterogeneidade da doença e a sua "evolução muito prolongada" - o que dificulta um diagnóstico precoce -, José Palma dos Reis, sugeriu uma "estratificação do risco" para direcionar o rastreio aos que apresentam fatores mais alarmantes. "No fundo, o rastreio é um alargar a quem precisa de aceder aquilo que já fazemos no dia-a-dia com a detenção oportunística", disse, referindo-se aos doentes que procuram os médicos por historial familiar ou até mesmo apesar de não apresentarem sintomas para realizarem exames à próstata.