Pais voluntários são "maquinistas" do CicloExpresso, que percorre 2,5 quilómetros, pela zona mais central de Aveiro, até à Escola Básica João Afonso. É a segunda "linha" que a associação Ciclaveiro cria na cidade, para que as crianças possam ir para as aulas de bicicleta. "E para serem mais felizes", dizem
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Não há apito a sinalizar a partida. Mas também não é necessário, desde que o relógio de Isabela Rusconi tenha os ponteiros acertados. Às 08.03 horas, em ponto, é tempo de o "comboio" arrancar da Praceta da Metalomecânica, no centro de Aveiro, rumo à Escola Básica João Afonso, a 2,5 quilómetros de distância. Bernardo e Sebastião, seus filhos, de 10 e de 14 anos, são os primeiros passageiros da composição, à qual se vão juntando outras "carruagens", ao longo do percurso, compostas por mais adultos e crianças. É o CicloExpresso. É um "comboio" de bicicletas que funciona há quase dois anos e que iniciou, em janeiro, a sua segunda linha. Sem aspas, porque há mesmo horários e paragens a cumprir, como num comboio verdadeiro.
Os ainda sonolentos irmãos, quando saem pela porta do prédio onde vivem, não demoram a ganhar ânimo. Basta colocarem-se em cima da bicicleta e começar a pedalar. Em segundos, a brisa matinal trata do resto. "É melhor ir de bicicleta. Não precisamos de ficar parados à espera, por causa dos outros carros", atira Bernardo.
Venho uma hora mais cedo do que se andasse sozinho, mas não faz mal. É divertido e faço companhia
Entre a Avenida Lourenço Peixinho, as traseiras do Centro Comercial Oita e o Parque Infante D. Pedro, juntam-se mais ciclistas. Entra "a bordo" André Zúquete, um professor da Universidade de Aveiro que, apesar de não ter filhos menores, soube da iniciativa e aproveitou a boleia. "Venho uma hora mais cedo do que se andasse sozinho, mas não faz mal. É divertido e faço companhia", sublinha. Entra Ivo Angélico e o cunhado, João Lopes, de 11 anos. Entra Susana Caixinha e as duas filhas, Mafalda, de 7, e Matilde, de 10.
Depois de um troço do percurso ser feito pelo meio do parque, Mafalda segue em frente, para levar a filha mais nova a outra escola. O grupo corta à direita, para a João Afonso. E Matilde segue, confiante, com a comitiva. Até porque, para participar no CicloExpresso, não é imperativo que um familiar acompanhe a criança. "O importante é termos duas pessoas responsáveis, para ir uma à frente e outra atrás, a fazer uma caixa de segurança", explica Isabela Rusconi, da Ciclaveiro, associação responsável pelo "comboio".
Participação gratuita
Segurança é a palavra-chave do projeto, que começou no Parque das Nações, em Lisboa, cidade onde já há três linhas, para ser replicado em Aveiro, inicialmente apenas com o percurso que vai até à Escola Básica das Barrocas. "Quantos mais formos na estrada, mais protegidos estamos, porque os condutores respeitam mais", diz André Zúquete. E Ivo Angélico, apesar de entender que "ainda faltam condições" para o uso diário da bicicleta na cidade, confirma: "Tem um efeito benéfico para os restantes ciclistas, porque os condutores começam a aperceber-se de que há ciclistas de todas as idades. Noto que, aos poucos, estão a ter mais cuidados, a guardar mais distância e a adequar a velocidade".
Ivo já estava habituado a ir de bicicleta para o trabalho, mas quis proporcionar a experiência ao cunhado. E João parece adorar. "É bom. Fazemos exercício e não poluímos o ambiente", diz o menino. E consta, até, que não é preciso "arrastá-lo" para sair da cama. "As crianças acabam por estar mais felizes de manhã e mais despertas. Queremos alargar a iniciativa o mais possível", acrescenta Ivo.
"Entrar" no CicloExpresso é gratuito e percursos e horários podem ser adaptados. Basta contactar com a associação, por exemplo, pelas redes sociais. E aproveitar o convite da pequena Matilde: "É fixe. Ando todos os dias de bicicleta. É bom porque andamos ao ar livre"