Depois de uma manhã dedicada ao setor da Saúde na Amora, o secretário-geral do PCP fez uma viagem de duas horas para chegar a casa: o Alentejo. Na terra comunista da Vidigueira, Jerónimo de Sousa foi calorosamente recebido no Mercado Municipal da vila, para um almoço com mais de 150 apoiantes e militantes.
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O dia começou bem cedo para Delmiro Palma e Lina Lourenço. Às oito horas da manhã, já se cortava a carne e os legumes para cozido de grão, preparado com "o coração" para receber o camarada Jerónimo. "Da última vez que ele cá veio, preparamos o cozido de grão e ele gostou muito", conta Delmiro Palma ao JN. Decidiram repetir.
Delmiro é militante do PCP há 28 anos e é o voluntário responsável pela organização e logística do almoço. Para trás e para a frente, apressado e de olhar atento, assegura que tudo corre como previsto. Uma grande responsabilidade que nem sequer o deixa aproveitar a refeição. "Ui, nem consigo comer. Mexe comigo. É o orgulho de ter cá o camarada Jerónimo. Tenho a preocupação que tudo corra bem. É um orgulho estar aqui", confessa emocionado. A voz embargada e os olhos rasos de lágrimas não escondem a emoção. Que emoção? "A emoção de pertencer a este grande coletivo. O Jerónimo de Sousa é a cara deste coletivo. É um camarada que trabalha connosco, ao nosso lado", conta Delmiro.
Lina Lourenço é a cozinheira responsável pelo almoço do líder comunista. Não pára. Ora na cozinha improvisada a controlar a saída do cozido, ora de mesa em mesa a receber rasgados elogios. Já está habituada. Garante ao JN que foi com "o coração" que preparou a iguaria. Delmiro, o marido, levanta a ponta do véu sobre o prato alentejano. "É cá um segredo! Nós aqui dizemos que é cozido de grão com carne 'esfoladiça'. É aquela carne que fica cozida de tal maneira que larga o osso. Leva orelha de porco, chispe, enchidos tradicionais do Alentejo", revela ao JN.
O militante faz questão de explicar que o Partido Comunista Português funciona em coletivo e que todos ajudaram. É esta a filosofia. "Um dá os nabos, outro dá o grão. As camaradas fizeram todas uma sobremesa para depois do almoço, cada uma trouxe a sua. É um trabalho em equipa". Durante o almoço, o voluntário troca impressões com o secretário-geral do PCP sobre o cozido. "Ele diz que está muito bom e que está a gostar muito", atira, orgulhoso.
Jerónimo de Sousa denuncia "cumplicidade" entre Governo e Banco de Portugal
Nas últimas eleições legislativas, a CDU conseguiu eleger um dos três deputados possíveis pelo círculo eleitoral de Beja. Na Vidigueira, Jerónimo de Sousa apelou ao "reforço" na coligação e abordou o tema da banca, denunciando o "assalto aos rendimentos que representam as comissões bancárias".
O líder comunista falava a propósito dos dados divulgados pelo Banco de Portugal, que dão conta de 788 alterações às comissões bancárias no primeiro semestre deste ano e do aumento de custo dos cartões de débito. "O escândalo de campeia perante a cumplicidade de reguladores e Governos que atinge particularmente a população mais vulnerável e de menores rendimentos, muitas delas apenas com contas à ordem", disse o secretário-geral do PCP.
Jerónimo de Sousa voltou, uma vez mais, a encostar o Partido Socialista à Direita. Lembrou que, em julho, o PS, PSD e CDS chumbaram o projeto-lei proposto pelo PCP para limitar as comissões de manutenção de contas à ordem em quatro euros por ano. "Isto é um escândalo. Em que reguladores e Governo parecem que têm uma posição de Pilatos como se não tivessem nada a ver com isto", criticou.