Valeu a pena: para Jerónimo de Sousa, a solução governativa à Esquerda saída das eleições de 2015 merece nota positiva. "Não foi um tempo percorrido em vão", defendeu o líder do PCP, no arranque da reunião magna do partido, em Loures, onde deixou claro que os comunistas já se apearam da "geringonça" após o PS ter passado a atuar à corda larga e optar por fechar os olhos a uma Direita que "cavalga a crise".
Corpo do artigo
Num congresso condicionado pela pandemia - e onde o mais aplaudido foi o candidato presidencial João Ferreira, olhado como um possível futuro secretário-geral do partido -, Jerónimo assumiu que a militância está em queda. Algo que levou a que a maioria dos delegados esgrimissem, ao longo do dia, os resultados da campanha "5000 mil contactos" nas suas regiões: à exceção da Madeira, onde foram conseguidos 131 novos militantes, a grande parte não conseguiu angariar para o PCP mais de 1% dos contactados.
13083911
Segundo Jerónimo, "os quatro anos, de 2015 a 2019, que corresponderam à "nova fase da vida política nacional", não foi um tempo percorrido em vão". "Fizeram-se ruir dogmas e confirmaram-se teses e razões reiteradamente sublinhadas pelo PCP", apontou, ontem, sobre um período que disse ter permitido "a melhoria das condições de vida".
Agora, tudo mudou: "O período da atual legislatura apresenta uma distinção significativa em relação à anterior". "O PS encontra-se desde então mais liberto para dar expressão, sem condicionamentos, às opções de política de direita que o caracterizam e se têm vindo a confirmar nas opções", criticou, aludindo, entre outros passos em falso, à "entrega de milhares de milhões de euros à banca". A que somou a resposta à crise provocada pela covid-19.
"Força de oposição"
13082444
A pandemia tornou-se "uma situação que PSD, CDS e os seus sucedâneos da Iniciativa Liberal e do Chega procuram aproveitar, cavalgando a situação de crise e falta de resposta aos problemas por parte do Governo do PS para relançar a sua política de desastre nacional", disse, num discurso de uma hora em que começou por apontar que o congresso ultrapassou os ataques "de campanhas insidiosas" em "tempos muito difíceis". Sem nunca referir Rio [ler texto ao lado], Jerónimo aludiu a que a pandemia "está a ser usada pelo grande capital" para ameaçar a democracia e que a reunião magna comunista foi um desses alvos.
Por tudo isto, o PCP "não faz parte da alegada maioria" da Esquerda, mesmo após viabilizar o Orçamento anteontem, abstendo-se. "É força de oposição", reforçou, aludindo à nova fornada de militantes, conseguidos com a campanha que consiste em contactar 5 mil pessoas e sensibilizá-las para as teses comunistas, "não compensou as saídas, havendo uma redução do efetivo partidário".
O alerta de Jerónimo, seguido do pedido de uma maior insistência na campanha junto do operariado, jovens e mulheres, surgiu após arrancar o maior aplauso para João Ferreira, a quem se vaticina, se não o cargo de líder do PCP, a figura de secretário-geral-adjunto, criada em 1992 e que foi ocupada durante dois anos por Carlos Carvalhas, na fase final da liderança de Álvaro Cunhal.