Jornada da Juventude esgota autocarros e condiciona colónia de férias das crianças
Necessidade de transportes para a Jornada Mundial da Juventude está a deixar alguns pedidos sem resposta e a obrigar a cancelar atividades para crianças e idosos.
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A procura elevada de autocarros para julho e agosto, meses para os quais são esperados milhares de peregrinos para a Jornada Mundial da Juventude em Lisboa, deixou várias empresas rodoviárias sem capacidade de resposta. Algumas confirmam que receberam centenas de pedidos para o evento católico. E há juntas de freguesia de Lisboa que cancelaram atividades para crianças e idosos devido à falta de transporte. "Disseram-nos que é impossível assegurarem autocarros porque estão todos cativos para a Jornada", diz fonte oficial da Junta de Freguesia de Carnide. A organização do evento diz que não há motivos para alarmismo.
Fonte da Transdev, uma das maiores operadoras de transportes do Mundo, disse ao JN que "a procura de autocarros para julho e agosto bateu todos os máximos históricos conhecidos". "Infelizmente, não conseguimos responder positivamente a cerca de 30% das solicitações. Há uma enorme escassez de veículos e sobretudo de motoristas e não só no mês de agosto", diz fonte da empresa, que confirma que já teve pedidos para a Jornada Mundial da Juventude, que se realiza na primeira semana de agosto, em Lisboa. Uma realidade confirmada por várias transportadoras contactadas pelo JN.
"Impossível" ter transporte
Vasco Matos, da Ovnitur, diz que "este ano, com a Jornada da Juventude, o volume de trabalho solicitado é maior". "Recebemos cerca de 150 pedidos nacionais e mais outra centena de estrangeiros para a Jornada. Lamentavelmente, não vamos conseguir responder a todos", adianta, acrescentando que "é provável que a nível nacional não haja capacidade para responder a tudo". João Reis, da Bybus, recebeu pedidos para o megaevento, mas diz que não puderam aceitar: "já não tínhamos autocarros", afirma.
Estas solicitações somam-se aos pedidos já habituais de juntas de freguesia, colégios, infantários e associações para esta altura do ano. Em Lisboa, o presidente da Junta de Carnide, Fábio Sousa, teve de cancelar atividades das colónias de férias para crianças, como idas à praia e às piscinas de Santarém, e programas para idosos. "As empresas disseram-nos que é impossível assegurarem autocarros durante a primeira semana de agosto porque estão todos cativos para a Jornada da Juventude. Ao longo do verão, precisamos de 47 autocarros e chegamos a ter mais de 2000 crianças", diz.
O presidente da Junta de Benfica, Ricardo Marques, teve as mesmas dificuldades. "Há um número muito exíguo de autocarros para as necessidades do verão. Estamos muito preocupados porque a nossa junta, com quase 1000 crianças por semana nessa altura, não tem transporte assegurado para a praia e outras atividades", lamenta.
Em Gaia, o presidente da Junta da Madalena, Miguel Almeida, diz que pré-reservou os veículos para as colónias de férias depois de ter sido aconselhado pelos operadores a fazê-lo, antevendo já esta elevada procura e acredita que não terá problemas. No Porto, o presidente da Junta da Campanhã, Paulo Ribeiro, diz que não planeou atividades para a primeira semana de agosto por antever que haveria dificuldades para arranjar transportes devido à pressão da Jornada.
Contactada pelo JN, a porta-voz da Jornada Mundial da Juventude 2023, Rosa Pedroso Lima, garante que não há motivos para alarmismos. "Ainda não temos uma visão fechada de quantos peregrinos teremos em cada uma das localidades. Estamos a fazer contactos para empresas de transportes para que o problema seja sanado, mas precisamos de mais tempo e mais dados para traçar o guião das necessidades de cada uma das dioceses. Os autocarros são uma pequena parte de uma megaoperação logística", esclarece.
Falta de motoristas agrava o problema
As transportadoras dizem que a escassez de autocarros é agravada pela falta de motoristas. "Temos meia dúzia de autocarros parados por dia por não termos meios humanos", diz António Campos, da AGT Bus, que lembra que "o acesso à profissão é caro e os motoristas não querem investir tanto para ganharem menos de 1000 euros". João Reis, da Bybus, confirma a dificuldade em recrutar". "Há operadores que preferem ter autocarros parados, na época alta, porque o motorista de pesados não quer fazer uma manhã por menos de 70 euros". Vasco Matos, da Ovnitur, diz que "a procura dos grandes grupos envolvidos com a Carris Metropolitana (operadora de autocarros da Grande Lisboa) veio "roubar" recursos humanos".
O presidente da Associação Nacional de Transportes de Passageiros, Cabaço Martins, confirma que têm vindo a fazer "um esforço grande de contratação de motoristas, principalmente no Brasil e em Cabo Verde".