José Eduardo Martins: "Legislativas só podem chegar mais cedo do que antecipam"
José Eduardo Martins avisou que não diria nada, no 36º congresso do PSD, que não tivesse já dito publicamente nos últimos seis anos, desde que abandonou a vida política ativa. E cumpriu.
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Sem medo de falar do passado, deixou críticas aos quatro anos de legislatura e aos cinco meses de oposição. Disse que a social-democracia não se faz de slogans, que um partido não pode deixar de marcar agenda, que o futuro não pode ser o regresso ao passado, e que ser oposição não é estar contra tudo. "Desculpem que vos diga: qual é o pingo de inteligência e coerência que nos leva a votar contra tudo o que esteja num Orçamento de Estado?", perguntou. "Qual é o racional e a lógica de não se poder apresentar uma única proposta de alteração ao Orçamento de Estado?". E classificou: "Nada disto é responsável, nada disto é inteligente, nada disto é coerente." E pediu mais futuro.
"Ser social-democrata, sempre, sim. Mas em especial quando se está a governar"
Num dos discursos mais esperados do dia, o ex-deputado social-democrata disse concordar com a ideia de que o partido precisa de assumir "em plenitude o primado da social-democracia", mas não da forma que tem sido anunciado. "Isso não se faz nem com slogans, nem apenas quando se está na oposição", frisou. "Ser social-democrata, sempre, sim. Mas em especial quando se está a governar. Aí é que é preciso ser-se social-democrata, honrando a nossa matriz, a nossa história e os nossos valores".
O PSD tem razões para sentir "orgulho" no passado recente, porque "retirou o país da bancarrota, pôs termo ao resgate e voltou a ter financiamento internacional", elogiou José Eduardo Martins. Mas não tem razões para ser "arrogante", porque, "foram cometidos erros, escasseou a sensibilidade social, e foram muitos os momentos de deriva ideológica em que a matriz social-democrata foi esquecida".
O ex-secretário de Estado de Durão Barroso reconhece que o PSD tem razão para sentir-se "indignado" com a formação de um governo que não ganhou as eleições, e que diz resultar "da sede de poder de uns e do instinto de sobrevivência de outros", mas considera que "acabou o tempo dos estados de alma, dos amuos e da ideia de ressentimento".
"O PSD não deixou de alertar para as implicações da perversão da vontade popular. Manifestámos, e bem, a nossa legítima indignação". Mas, a partir de agora, "serão os portugueses a julgar, pelo voto, o comportamento aventureirista do PS de António Costa". Aliás, acrescentou, "o encosto de António Costa à esquerda é uma excelente oportunidade para recuperarmos a nossa matriz". Até porque, "as eleições legislativas podem chegar mais cedo do que muitos antecipam".
"Serão os portugueses a julgar, pelo voto, o comportamento aventureirista do PS de António Costa"
Pouco antes, José Pedro Aguiar Branco apontara Martins como sendo um bom candidato a Lisboa, desafiando-o a ir a jogo. "Vão a votos ou calem-se para sempre", disse o advogado do Porto. O advogado de Lisboa não respondeu e opto antes por pedir ao PSD que "mude de atitude e abrace causas esquecidas". Que seja "uma oposição com alma, com energia e com esperança". Ressalvando ter encontrado pontos positivos no discurso de Passos, insistiu, no entanto, que "convém falar mais sobre o futuro".
"Que país queremos daqui a uma década, quando os nossos filhos chegarem ao mercado de trabalho?", perguntou, para responder com os desafios e as bandeiras que se não são as do atual PSD serão pelo menos as suas: a solidariedade com os mais velhos, os reformados e os pensionistas, com quem "o PSD está a perder a sua relação afetiva e política"; a economia do conhecimento, vital num país sem capital à solta na globalização; a competitividade fiscal, que "de tão pesada e asfixiante, dá cabo do país"; a coesão territorial e a nova estratégia de integração no espaço europeu.