O bispo de Leiria-Fátima teme que o voluntarismo de ir, diretamente, resgatar refugiados possa pôr em causa a integração plena de quem chega. José Ornelas pede, por isso, às instituições da Igreja que atuem de forma articulada com as entidades oficiais e elogia as medidas "corajosas" do Governo e autarquias, quer ao nível do enquadramento legal quer das estruturas criadas para ajudar os ucranianos fugidos da guerra.
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"O apoio tem de ser organizado, com convergência e articulação de meios. O fundamental não é que vá lá e fique contente por ajudar, mas que as pessoas sejam bem acolhidas e que tenham uma estrutura sustentável", afirmou o bispo, numa conferência de imprensa que deu esta quinta-feira à tarde para assinalar o início de funções na Diocese de Leiria-Fátima.
O prelado, que é também presidente da Conferência Episcopal Portugal, recordou a preocupação das organizações internacionais, em particular com as crianças e à forma como são "acolhidas, tratadas e protegidas", que pode ser colocada em causa se não houver articulação nas respostas.
"Não estou a dizer que haja más intenções de quem vai, mas é preciso haver coordenação", defendeu o bispo, frisando que, face à dimensão do problema, "a resposta não pode ser individual". Razão pela qual as orientações dadas às paróquias e às instituições da Igreja é que "se mobilizem, mas que atuem em colaboração com as entidades oficiais", nomeadamente com a Plataforma de Apoio aos Refugiados.
Alerta às paróquias
"Não pode ser assim. Sei de várias paróquias que foram diretamente lá [à Ucrânia] levar a ajuda e trazer refugiados", afirmou, frisando que "é de louvar a boa vontade, mas aqui trata-se de muito mais do que isso". Nesse sentido, considera que Governo tomou medidas "corajosas", assim como as câmaras, ao nível, por exemplo, da legalização destas pessoas, do acesso à escola e à assistência médica.
No encontro com os jornalistas, D. José Ornelas falou também do trabalho que está a ser feito pela comissão independente para o estudo dos abusos sexuais na igreja e reiterou "não ter medo dos números" que venham a ser apurados. Disse ainda estar "preocupado, mas não angustiado" com a falta de vocações.
Sobre a vida interna da sua nova diocese, o bispo, que tomou posse no domingo, assegurou que as contas do Santuário de Fátima voltarão a ser divulgadas publicamente e anunciou que, dentro de poucas semanas, irá encontrar-se com o Papa em Roma para reiterar o convite para vir à Cova da Iria, no próximo ano, por ocasião da Jornada Mundial da Juventude. "Dou praticamente como certo que virá. É isso que o Papa tem dito", avançou.