São cada vez menos os jovens médicos interessados em trabalhar no Serviço Nacional de Saúde (SNS) após a formação especializada. Quase metade (45%) das vagas abertas pelo Ministério da Saúde para colocar especialistas nos hospitais ficou por preencher. Um resultado ainda pior do que o registado no último concurso para os médicos de família, no qual um terço dos lugares ficaram desertos.
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No início do mês, a ministra da Saúde disse que a taxa de retenção dos médicos que terminam a especialidade se tem situado sempre acima dos 80%. Mas os resultados das últimas contratações para hospitais e centros de saúde revelam uma realidade bem diferente.
O concurso da segunda época de 2018, aberto em dezembro, previa a colocação de 287 médicos de especialidades hospitalares e 13 de saúde pública. De acordo com dados da Administração Central do Sistema de Saúde foram ocupadas 165 vagas, das quais 64 no Norte (62, segundo a ARS Norte), 26 no Centro, 60 em Lisboa e Vale do Tejo, dez no Alentejo e cinco no Algarve.
Para dar mais opções aos interessados, o Ministério abriu mais vagas do que os postos de trabalho a contratar (300). Contudo, a medida não surtiu o efeito esperado. Comparando o número de vagas abertas por região de saúde e o número de vagas preenchidas, percebe-se que as taxas de colocação no Centro (37%), Alentejo (22%) e Algarve (31%) são muito baixas e bem inferiores às do Norte (70%) e de Lisboa e Vale do Tejo (60%).
Zero vagas preenchidas
Com base em informação das ARS do Norte, do Alentejo e do Algarve (a de Lisboa e Vale do Tejo não centraliza a informação e o Centro não respondeu em tempo útil), constata-se que há hospitais com muitas dificuldades em atrair médicos. A Unidade Local de Saúde (ULS) do Norte Alentejano, por exemplo, não conseguiu contratar nenhum especialista. As ULS do Litoral Alentejano e do Nordeste (Bragança) cativaram apenas um médico cada.
Ontem, na comissão de Saúde, a propósito dos concursos que ficam com vagas por preencher, Marta Temido referiu que há médicos que preferem a modalidade de contratos de prestação de serviço, admitindo que possam ser mais atrativos em termos financeiros ou dar maior liberdade de organização da vida pessoal.
O bastonário dos médicos contrapõe, alegando que "nenhum médico gosta de trabalhar para empresas de prestação de serviços, em que a segurança no trabalho é nula". Miguel Guimarães nota que os últimos concursos já são da responsabilidade da atual ministra e critica o Ministério por continuar sem estratégia para atrair médicos para o SNS.
Áreas críticas
As especialidades de anestesiologia e de pediatria voltaram a ficar com grande parte das vagas por preencher. Em anestesiologia, por exemplo, das 11 vagas abertas para as regiões Norte, Alentejo e Algarve, apenas quatro foram ocupadas.
Concurso alterado
O concurso para colocação de especialistas das áreas hospitalar e de saúde pública, de dezembro de 2018, foi alterado em janeiro último para poder abrir mais vagas e dar mais opções aos médicos interessados.
Médicos de família
Como o JN noticiou, também o concurso para novos médicos de família de dezembro ficou muito aquém: cativou 73 profissionais para ocupar as 113 vagas abertas. Lisboa e Vale do Tejo, a região mais carenciada de médicos de família, ficou com 15 vagas por ocupar.
100 vagas na região de Lisboa e Vale do Tejo resultaram na colocação de 60 médicos. O Norte colocou 64 médicos em 91 vagas.
26 médicos colocados no Centro em 70 vagas abertas. O Alentejo fixou 10 especialistas (45 vagas) e o Algarve cinco (16 vagas).