Lamas tornou-se em poucos anos o maior produtor de Trás-os-Montes. Já vende para a Arábia Saudita, Singapura, Noruega ou Inglaterra.
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Poucos sabem que na Arábia Saudita, Singapura, Inglaterra e Noruega se consome cereja produzida em Lamas, pequena aldeia com 250 habitantes de Macedo de Cavaleiros, que em poucos anos se tornou no maior produtor de Trás-os-Montes, onde a maior parte da população tem pomares e conta com um dinheiro extra na primavera à conta desta colheita sazonal.
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Apesar de produzir várias centenas de toneladas, da qualidade reconhecida e do escoamento quase total da produção para os mercados do Grande Porto e outros concelhos do Norte, a cereja de Lamas ainda não é conhecida do grande público. "Falta dar um salto na promoção. A Associação de Produtores de Cereja de Lamas é recente, já realizamos duas feiras nos últimos dois anos (2018 e 2019), que correram muito bem. Só que este ano já não foi possível marcar outro certame por causa da pandemia", explicou o presidente da junta, Leonardo Vila Franca, também ele produtor, considerando que "está a faltar o reconhecimento" para esta cereja doce e bonita.
A associação já conta com 20 produtores. "A ideia seria trabalhar uniformemente. Se todos cultivarmos os pomares da mesma maneira vamos ter uma produção semelhante. Gostaríamos de levar a produção da aldeia a ser uniforme para a comercializar com uma marca, vendida ao mesmo preço", sublinhou Leonardo Vila Franca.
Jovens chegam-se à frente
Na localidade existiam pequenos produtores de cereja, mas nos últimos anos, alguns jovens têm-se aventurado nesta cultura aproveitando as condições climáticas e os bons solos. Este é o caso de Paulo Pires, um dos maiores produtores da pequena freguesia, que em média colhe 50 toneladas de cereja em pomares com uma área de perto de 30 hectares. Não têm dificuldades em escoar tudo o que produz. Ainda que venda sobretudo para Portugal tem apostado na exportação para nichos de mercado mais longínquos e até pouco habituais.
"Estamos a vender para um intermediário que nos coloca o produto em mercados mais distantes. Esses destinos só procuram cereja de maior qualidade mas valorizam mais o produto. A cereja precisa de ter uma maior capacidade de conservação para ir para esses países", descreveu Paulo Pires, que não se queixa de grandes perdas de produção este ano. "Temos bastante quantidade e ótima qualidade".
A cereja é tanta que na freguesia não se consegue arranjar mão de obra para a apanha o que obriga os agricultores a contratar fora. Só que pela primeira vez aquele produtor teve mais oferta do que necessidade. "Muita gente está sem trabalho", constatou.
Quebras de 50% em Alfândega da Fé
Alfândega da Fé é conhecida como a capital da cereja no Nordeste Transmontano, onde habitualmente se produzem mais de 150 toneladas, mas este ano a quebra de produção ronda os 50% face a 2019 devido ao mau tempo. Ali se realiza há cerca de 30 anos a Festa da Cereja, que este ano foi cancelada devido à pandemia. Nos últimos anos os produtores de Alfândega da Fé enfrentam uma concorrência maior na região, tanto da cereja de Lamas, como da de Mascarenhas, Mirandela, onde a apanha se iniciou no final de abril e 30 agricultores produzem 100 toneladas/ano.