O líder da comunidade chinesa em Portugal não tem conhecimento de nenhuma esquadra ilegal da polícia chinesa a funcionar em território nacional.
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Y Ping Chow diz que a denúncia da Iniciativa Liberal (IL) "põe em causa o trabalho da polícia portuguesa" e que "é preciso provas" para fazer afirmações desta gravidade. Se as há, "então que as entreguem às entidades oficiais".
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"Nunca tive conhecimento de qualquer esquadra, nem de nenhum cidadão que tenha sido repatriado. Não compreendo como é que surge esta notícia. Isto põe em causa o trabalho das entidades oficiais portuguesas, principalmente a polícia", afirma Y Ping Chow, que, há 20 anos, preside à Liga dos Chineses em Portugal e é, há 22 anos, conselheiro do Alto Comissariado para as Migrações.
O chinês, que vive há 60 anos em Portugal, diz que o governo chinês "faz tudo" para respeitar as leis dos países onde tem cidadãos emigrados e garante que, os números desmentem a denúncia de Cotrim Figueiredo: "Nos últimos anos, a comunidade chinesa a viver em Portugal têm-se mantido estável. São 35 a 40 mil (contabilizando os filhos de cidadãos chineses já nascidos em Portugal). A comunidade está satisfeita com Portugal, os portugueses acolheram-nos bem e estamos felizes".
Se alguma diminuição houve - e ainda assim "pouca", garante -, diz, deve-se apenas à pandemia que levou muitos a regressarem temporariamente à China, seja por causa dos negócios, seja para cuidarem de familiares.
O relatório da Safeguards Defenders
A denúncia foi feita, na quinta-feira, no Parlamento pelo líder da IL. Cotrim Figueiredo citou um relatório da Organização Não Governamental (ONG) Safeguards Defenders para questionar o primeiro-ministro, António Costa, sobre a existência de esquadras informais da polícia chinesa, articuladas com o Partido Comunista Chinês, a funcionar em Portugal. O líder da IL quer saber o que está a ser feito para "parar estas patentes violações dos direitos humanos".
De acordo com o relatório, a operação do governo chinês "110 Overseas" começou em 2018. O objetivo seria repatriar cidadãos chineses para a China à revelia das autoridades do país de acolhimento. O documento publicado pela ONG diz que, entre abril de 2021 e julho de 2022, 230 mil chineses em todo o mundo foram "forçados" a regressar à China e que nem todos estavam acusados de qualquer crime.
Para "forçar" o regresso, usam mecanismos como negar aos filhos dos alvos, que ainda residem na China, o direito à educação, limitar ou punir os membros da família "por associação".
Nos cinco continentes, a Safeguards Defenders identificou já 54 esquadras informais. Em Portugal haverá três: Lisboa, Vila do Conde e Madeira.
Perante a questão de Cotrim Figueiredo, António Costa garantiu não ter conhecimento do caso: "A resposta é muito fácil: não tenho nenhum conhecimento e seguramente os serviços também não. Mas recomendava-lhe que transmitisse isso à Procuradora Geral da República", respondeu António Costa.