Lisboa tem das maiores discrepâncias entre valor da renda e expectativa dos inquilinos
A taxa de discrepância entre o valor da renda e as expectativas dos inquilinos diminuiu na Europa, com o Porto na lista das quatro taxas mais baixas e Lisboa com a sétima mais alta. Carlos Amigo, da HousingAnywhere, afirma que a raiz da crise habitacional em Portugal está na falta de oferta e atratividade turística.
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A crise habitacional tem afetado muitas cidades europeias, sendo um dos maiores problemas que Portugal enfrenta atualmente. As rendas altas e descontroladas estão na base deste flagelo nacional, especialmente em Lisboa e no Porto.
A HousingAnywhere, plataforma de arrendamento a médio e longo prazo, analisou as discrepâncias entre o valor das rendas de mercado e as expectativas dos inquilinos. O estudo Rent Gap Monitor abrangeu mais de 2,9 milhões de pesquisas feitas na plataforma nos últimos trimestres de 2023 e de 2022.
A renda média em Lisboa estabeleceu-se nos 1693 euros, mas a expectativa ficou nos 1300 euros. A taxa de discrepância de 30,2% é a sétima mais alta da lista, mas diminuiu 274 euros, comparando a 2022.
Na Invicta a discrepância é das mais baixas da Europa, situando-se nos 12,1%, contudo é o maior aumento registado face ao ano passado. Se, em 2022, o Porto apresentava uma disparidade relativamente pequena, apenas de 19 euros, em 2023, esse número subiu para 128 euros.
Carlos Amigo, gerente regional da HousingAnywhere, explicou, ao JN, que, “no caso das cidades portuguesas, as variações provavelmente resultam de mudanças significativas nos preços das rendas observadas no ano passado”.
Os valores apresentados dizem respeito à mediana das rendas registadas na plataforma HousingAnywhere e têm em conta o orçamento indicado pelas pessoas quando procuravam alojamento.
“Falta de oferta para fins residenciais” em Portugal
Em Portugal, a crise habitacional é uma preocupação cada vez mais urgente e a acessibilidade da habitação é cada vez mais reduzida. “Tal como noutras cidades em tensão na Europa, a raiz do problema é, geralmente, a falta de oferta para fins residenciais”, explicou Carlos Amigo.
À falta de oferta, junta-se a atratividade turística das duas grandes cidades portuguesas, tornando “tentador para os proprietários mudarem as suas propriedades de fins residenciais para fins turísticos, ameaçando os planos para alargar a oferta de habitação residencial.”
Em matéria de soluções, Carlos Amigo acredita que as prioridades devem ser as soluções a longo prazo. No seu entender, “medidas imediatas, como a limitação dos preços, parecem oferecer um alívio temporário, mas a solução definitiva reside na resolução do problema subjacente da escassez de habitações residenciais”.
Enumera, para o leque de soluções, a “adoção de regulamentos que incentivem os proprietários a manter as suas propriedades para o arrendamento residencial” e a “colaboração entre os setores público e privado para promover o desenvolvimento de conceitos de vida flexíveis”, de forma a aliviar as pressões do mercado.
Roma e Colónia são as cidades europeias com maior discrepância
A plataforma considera que, com o abrandamento do aumento das rendas, a taxa de discrepância europeia diminuiu significativamente, registando-se uma descida de valores em 14 das 23 cidades analisadas. Para Djordy Seelmann, CEO da empresa, se aliarmos o abrandamento ao “aumento anual mais baixo no final de 2023 nos últimos dois anos, isto oferece uma luz de esperança no meio da crise da habitação”.
Nas restantes cidades europeias analisadas, os valores apresentam algumas disparidades. Se, por um lado, Roterdão apresenta a menor diferença, quer em euros (47 euros), quer em percentagem (3,1%), Amsterdão possui uma discrepância absoluta de 400 euros e de 22,2% e o valor mais alto do preço mediano das rendas (2200 euros). No primeiro lugar do pódio, está a capital italiana, Roma, e a cidade de Colónia, na Alemanha.
Para além de Roterdão, a única cidade com uma discrepância menor do que 100 euros é Viena (92 euros). Na lista, estão cidades dos Países Baixos, Portugal, Alemanha, Itália, Áustria, Bélgica, Hungria, Finlândia, Espanha e França.