A pandemia do novo coronavírus teve o efeito de um autêntico tsunami nas áreas económicas das principais cidades portuguesas e a crise económica provocada ditou o encerramento de dezenas de cafés, restaurantes e hotéis.
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Terminou o "eldorado" vivido nos últimos anos devido ao crescimento do setor do turismo. Hoje, vivem-se dias de amargura e quem vai resistindo debate-se com quebras na faturação superiores a 90%.
Porto - Emblemáticos cafés, hotéis e discotecas
A cidade assistiu nos últimos anos ao desaparecimento de muitos dos mais emblemáticos espaços comerciais, sempre ligados à memória e à vivência das suas gentes. Faziam parte da tradição. Nomes representativos que não sobreviveram à mudança de hábitos dos portuenses, não conseguiram modernizar-se ou que não aguentaram o impacto da pressão turística e dos altos preços do imobiliário.
Os que sobreviveram debatem-se agora com uma crise ainda mais avassaladora causada pela pandemia. Restaurantes, cafés e hotéis encerraram portas, uns temporariamente, outros para sempre.
Na restauração e de acordo com o último inquérito realizado pela Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (AHRESP), mais de 51% das empresas da cidade não conseguiram em dezembro suportar os encargos habituais (pessoal, energia, fornecedores e outros) e mais de 40% das empresas ponderam avançar para a insolvência.
Na hotelaria, o cenário não é mais animador. Cerca de 49% das empresas de alojamento registaram uma quebra superior a 90% na faturação de novembro, face ao mês homólogo de 2019 e, no mês passado, 31% das empresas afirmavam que não iriam conseguir suportar os encargos habituais.
Cafés como o Majestic ou o Guarany estão fechados temporariamente. A Casa Aleixo e a Cervejaria Galiza fecharam de vez. Na hotelaria, 40 dos 120 empreendimentos registados suspenderam a atividade devido à pandemia e surpreendeu o fechar das portas do emblemático e mundialmente conhecido Infante Sagres.
Discotecas como o Indústria, o Eskada, Pérola Negra, Griffons ou a Gare fecharam por tempo indeterminado. António José Fonseca, presidente da Associação de Bares da Zona Histórica do Porto, teme que "a noite portuense nunca mais volte a ser a mesma e que a pandemia tenha mudado os hábitos dos portuenses". Atualmente circular à noite pelas ruas da cidade parece mais atravessar uma cidade-fantasma.
Braga - Negócios recentes são os mais afetados
Lojas, cafés e restaurantes com poucos anos de atividade foram os que mais sofreram com a pandemia na cidade de Braga, levando alguns deles ao fecho de portas, como é exemplo a "Natas da Sé", perto da Câmara Municipal. O diretor-geral da Associação Comercial de Braga, Rui Marques, não consegue contabilizar o número de insolvências, mas garante que as casas mais antigas "são mais resilientes". Em relação aos hotéis, apenas o Vila Galé e os hotéis do Bom Jesus fecharam portas, temporariamente.
Rui Marques adianta que, entre março e novembro, o setor do alojamento teve quebras de 55% em relação ao mesmo período do último ano. A restauração perdeu 41% da faturação e o setor da moda registou uma diminuição de 39%. "Se não fosse a pandemia, até novembro, estimávamos faturar mais 330 milhões de euros [nos setores do comércio, restauração, alojamento] do que no último ano. Em 2019, faturámos um total de 1257 milhões de euros", contabiliza o responsável.
Aveiro - Comerciantes "atrapalhados"
O presidente da Associação Comercial do Distrito de Aveiro diz que a quebra nos negócios dos seus quase 2000 associados ronda este ano os 30% a 35%, "o equivalente a três meses sem receitas", mas não tem conhecimento do fecho de muitos estabelecimentos ou casas históricas. Jorge Silva admite que "há comerciantes atrapalhados, mas estão a aguentar-se" graças ao lay-off e às vendas no verão e Natal, apesar de terem ficado aquém dos últimos anos. Acrescenta que a restauração "foi trabalhando" e que os negócios ligados ao turismo foram aqueles que mais sentiram os efeitos da pandemia.
Lisboa - Mais de uma centena de portas fechadas
Desde o início da pandemia já fecharam 111 lojas na Baixa de Lisboa. Segundo Vasco de Mello, vice-presidente da Associação de Dinamização da Baixa Pombalina, estes números poderão aumentar "uma vez que já há anúncios de encerramentos com o termo do exercício de 2020". "Quanto aos hotéis, diria que 80% a 90% estão fechados, sendo poucas as exceções à regra. Quanto à restauração existem alguns estabelecimentos encerrados, principalmente aqueles que pertencem ao mesmo grupo", diz.
Pormenores
Rendas altas - Segundo a AHRESP, 78% das empresas de restauração estão em espaços arrendados. Destes, 62% já tentaram reduzir o valor, mas 65% dos senhorios não aceitaram.
Salário na hotelaria - Na hotelaria, mais de 25% das empresas não conseguiram pagar salários em novembro e 9% apenas pagaram uma parte. Cerca de 40% recorreram a mecanismos de apoio ao emprego.