A "falsa" ideia que o PSD é um partido de austeridade e a subalternização ao PS são algumas das razões apontadas por Luís Montenegro para a derrota nas legislativas. O candidato às diretas de sábado garante que não quer levar racistas para o partido, ao procurar o voto dos apoiantes do Chega, mas admite que votaria a favor de projetos de André Ventura para um referendo à eutanásia ou para um inquérito ao caso de Setúbal.
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Na moção do seu rival, é acusado de abrir o partido ao racismo, por querer os votos dos apoiantes do Chega. Esses votos cabem num PSD humanista?
O PSD nunca pactuou nem vai pactuar com fenómenos racistas, xenófobos ou populistas. Agora, considerar que os 400 mil eleitores de um partido têm essas ideias é um erro colossal. As pessoas que votaram em opções políticas à nossa direita reveem-se no nosso programa e na nossa forma de intervir. Na última eleição, não viram o PSD como alternativa forte para vencer o PS. Defendo um PSD aberto, à PPD, inspirado na visão humanista, personalista, interclassista, moderno, europeísta. Mas também um partido que entra no eleitorado central, que votou no PS e que se vai desiludir.
Perdeu essa matriz?
Não perdemos a matriz ideológica. Perdemos a ligação, a intimidade com os portugueses, no sentido de nos afirmarmos como partido de vocação maioritária. Em primeiro lugar, porque a ideia que muitos portugueses têm do PSD é que somos um partido de restrição, dos cortes, das dificuldades. Somos o partido que arruma a casa que o PS desorganizou, colocando as pessoas em dificuldades extremas, em pobreza.
Teme que isso volte a acontecer e que António Costa vá para Bruxelas?
Espero que não. Espero e desejo que o dr. António Costa - apesar de estar a transformar o país num país pobre, que cobra mais impostos do que nunca e não retribui com serviços públicos de qualidade, que tira às famílias e às empresas, com falhanços clamorosos em promessas como a do médico de família, com um processo de descentralização que é um flop completo -, espero que, apesar disto tudo, não deixe, em 2026, Portugal na situação em que o PS tem deixado sempre.
Apesar disso tudo, o PS conquistou a maioria absoluta. De quem é a culpa?
Naturalmente que temos que fazer uma introspeção no PSD para perceber porque estes resultados aconteceram. Vou destacar três fatores. Em primeiro lugar, temos que demonstrar que é uma falsidade absoluta que o PSD seja o partido da austeridade ou da restrição. Em segundo lugar, criamos uma ideia de falta de coesão e unidade interna, que é preciso também ultrapassar. Portanto, estou muito empenhado em dar ao PSD estabilidade, unidade coesão. E, em terceiro lugar, não podemos confundir o nosso projeto político com o do PS. Não podemos estar subalternizados face ao PS. Temos que fazer uma oposição firme, exigente e construir uma alternativa.
Essa unidade interna como a vai conseguir? Vai chamar o seu atual adversário e o líder do PSD?
Com certeza. Vou contar com todos, com todos os que estiveram com as lideranças anteriores e com todos que apoiam uma candidatura diferente, incluindo o líder dessa candidatura.
A propósito, já falou com o dr. Paulo Mota Pinto sobre a sua continuidade na liderança da bancada?
Ainda não falamos, porque naturalmente só deve falar com o presidente do grupo parlamentar e sobre essa matéria a pessoa que for eleita e ainda não fui eleito.
Vai ser confrontado com a eutanásia após as diretas. É favorável a um referendo, como o Chega propõe? Votaria a favor ou contra? Daria liberdade de voto?
A minha convicção é que o pais ainda não aprofundou esse debate. O referendo, não tenho dúvidas quanto a isso, é a opção correta. Se fosse deputado, votaria a favor dessa proposta. É uma opção política. Dito isto, se não houver referendo e se houver uma votação no Parlamento, o PSD fará o que faz sempre que é dar liberdade de voto, numa matéria que é de consciência. Se estivesse no Parlamento, votaria a favor do referendo e depois votaria contra a eutanásia, apesar de confessar ter algumas duvidas.
E viabilizaria a comissão de inquérito ao caso de Setúbal pedida pelo Chega?
Só assumirei as funções de presidente do PSD no congresso de 1, 2 e 3 de julho. Até essa data não me compete dar orientações. O que dou são as minhas opiniões. Fui a primeira pessoa a falar em se constituir uma comissão parlamentar de inquérito para se descobrir a verdade e para ultrapassar os bloqueios que o abuso da maioria absoluta já estão a impor no Parlamento.
Foi acusado de ter bloqueado a revisão constitucional e da lei eleitoral...
Não fui acusado, fui responsabilizado e assumo essa responsabilidade por inteiro. O próximo líder do PSD deve-se pronunciar sobre isso. Ao mesmo tempo, agradeço o trabalho que foi feito na produção desses dois projetos. Concordo com muitas opções que lá estão. Há algumas questões que me suscitam duvidas. Não vou lançar agora o debate, vou promovê-lo ato imediato à minha eleição.
Promete ganhar todas as eleições, logo as europeias de 2024. Assume responsabilidades se perder?
Temos todas as condições para apresentarmos uma candidatura forte e para lutarmos por uma vitória eleitoral. No fim dessas europeias, o meu mandato terminará, será sujeito a uma apreciação e eu assumirei integralmente as minhas responsabilidades. Qual é o meu objetivo? É daqui a dois anos ser recandidato, com um fôlego muito maior do que o que já tenho para poder, nos dois anos seguintes, convencer o país a apostar num Governo do PSD .