Associação Portuguesa de Nutrição realiza congresso e diz que Portugal vive "crise de muitas crises" alimentares.
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Uma sindemia acontece quando vários fatores de crise, sociais, económicos e de saúde, se agravam mutuamente. Para Helena Real, secretária-geral da Associação Portuguesa de Nutrição (APN), a nível alimentar, é essa a realidade atual em Portugal. “Estamos a atravessar uma crise de muitas crises nutricionais”. Má alimentação, alterações climáticas e doenças crónicas não transmissíveis, como a obesidade, “andam de mãos dadas”, sendo simultaneamente efeito e causa entre si.
“Se comemos de forma desajustada, teremos problemas de saúde. Estes comportamentos não saudáveis acontecem à custa do consumo de alimentos mais processados, que têm um forte impacte ambiental. Por outro lado, a crise climática afeta a nossa forma de produzir alimentos e, por isso, impacta aquilo que podemos ou não comer, principalmente reduzindo as fontes de consumo equilibrado”. Helena Real realça ainda o fator sociodemográfico, uma vez que esta “bola de neve” afeta, sobretudo, “quem tem menor nível socioeconómico”.
Alimentação inclusiva
Como solução desta sindemia, “é urgente pensarmos na alimentação inclusiva, ou seja, estratégias de nutrição que tenham em conta as especificidades de cada indivíduo”.
Neste contexto, a APN tem como foco a promoção de literacia alimentar, que capacita cada pessoa a tomar a decisão mais adequada. “O consumidor tem um poder enorme”, resume.
A aposta na prevenção não se fica pela promoção da literacia alimentar e nutricional. “É urgente integrar mais nutricionistas no Serviço Nacional de Saúde”, afirma a secretária-geral da APN.
Começando pelos cuidados primários, nos quais deve ser traçada uma estratégia de prevenção, mas também nos hospitais, com acesso a tratamento num estágio precoce das doenças, e nos cuidados continuados. “Se trabalhássemos mais na prevenção ou no tratamento precoce, que hoje não acontecem em valores ideais, evitaríamos o aumento de certas doenças crónicas a que se tem assistido e pouparíamos dinheiro público naquilo que é o tratamento mais à frente".