Restrições impostas por causa dos fogos não lhes permitem trabalhar. Indústrias que precisam da matéria-prima também em dificuldades.
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As empresas florestais alertam que, se continuarem sem poder trabalhar, devido às restrições impostas por causa dos fogos, poderão falir. As indústrias que usam a madeira como matéria-prima esgotam stocks e poderão parar.
Durante a contingência, as cerca de 2000 empresas do setor, que empregam perto de 40 mil pessoas, não podiam executar qualquer trabalho e a prorrogação da situação de alerta apenas permite que façam rechega, ou seja, os madeireiros podem tirar a madeira já cortada de dentro da mata, levar para a beira de caminhos e fazer pilhas. "Mas depois não a podem transportar" e levar às indústrias que a usam como matéria-prima, explicou Pedro Serra Ramos, presidente da Associação Nacional de Empresas Florestais, Agrícolas e do Ambiente (ANEFA), adiantando que há outras operações que também poderiam ser executadas sem causar risco e permitir que as empresas não estivessem paradas, como "medições e preparação de terrenos para plantações".
A "continuação da publicação da situação de alerta, nestas condições, conduzirá certamente ao encerramento de centenas de empresas que não têm como continuar a suportar esta situação", alerta a ANEFA. "A indiferença perante a realidade das empresas florestais neste processo é demasiado grave, sobretudo para um setor que representa 4% do PIB nacional. Este, e não os incêndios, é o estado que pode acabar com o setor florestal", conclui.
Vânia Soares, da Aroumadeiras, lembra que as restrições remontam a dia 11 e as empresas florestais "não têm apoios" e precisam cumprir os "compromissos financeiros para com trabalhadores, fornecedores e o Estado."
"Só pedimos para trabalhar", reforça Vânia Soares, apontando as dificuldades que a paralisação dos madeireiros causa noutras áreas. Há indústrias, como as do papel, que usam a madeira como matéria-prima e "estão a esgotar os stocks e prestes a parar", revela.
Indústrias afetadas
A CELPA - Associação da Indústria Papeleira refere que, caso esta paralisação se "prolongue de forma cega e indiscriminada", levará, entre outras coisas, "ao corte de fornecimento de matéria-prima às indústrias de base florestal de 1ª e 2ª transformação (onde se incluem as serrações e indústrias da madeira e mobiliário, as de materiais de construção e as da pasta e papel), com os impactos económicos e sociais que daí decorrem". Também causará o encerramento temporário de centrais de biomassa.
A CELPA receia a "destruição das cadeias de valor florestais, particularmente pela falência de um elevado número de pequenas empresas prestadoras de serviços florestais". "Estas falências (algumas já ocorreram com a paragem verificada até agora) terão como consequência uma redução assinalável na disponibilidade de operadores que, em anos futuros, possam assegurar as operações de limpeza da floresta e a remoção de carga combustível das áreas florestais", alerta.
De acordo com esta associação, que aponta dados do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, "nos últimos 10 anos (2011 a 2020) apenas 0,3% das ignições tiveram origem no uso negligente de Maquinaria e Equipamento Florestal (incluindo motosserras), estando na origem de 1,7% da área ardida nesse período".
Questionado pelo JN, o Ministério do Ambiente e da Ação Climática respondeu que o despacho de prorrogação da situação de alerta "admite já a realização de operações de exploração florestal de rechega, entre o pôr do sol e as 11 horas", não adiantando se estão previstas outras alterações ou apoios.