Presidente assume estilo mais exigente e interventivo, dois anos após a reeleição, e reforça avisos ao Governo.
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Dois anos após ter sido reeleito, Marcelo Rebelo de Sousa assume uma presidência mais exigente e interventiva, empurrado pela maioria absoluta e pelas sucessivas polémicas na equipa de António Costa. Na mensagem de Ano Novo, já avisou que só o Governo pode esvaziar a estabilidade por "erros de orgânica ou descoordenação" e que seria "imperdoável" desbaratar os fundos europeus. Mas as relações azedaram sobretudo quando Costa o desafiou a partilhar responsabilidades no escrutínio dos governantes, perante nova crise no Executivo.
Marcelo não tardou a expressar irritação perante a proposta. E foi bem sucedido nas pressões para que a então secretária de Estado da Agricultura, Carla Alves, se demitisse. Presidente e primeiro-ministro adotaram uma nova forma de comunicação, através de carta. Na semana seguinte, Marcelo acusou Rita Marques, ex-secretária de Estado do Turismo, de violar a lei ao integrar o Fladgate Partnership. A ex-governante anunciou logo depois que recusou o convite.
Quanto ao novo questionário, Marcelo contrariou Costa e insistiu que abrange quem está em funções.
Numa atitude de maior interferência, vai ao encontro de antecessores que reforçaram, no segundo mandato, a vigilância. Há sete anos em Belém, ainda tem três deste mandato, para o qual foi eleito com 61%.
A mudança também se deve à maioria absoluta obtida pelo PS há um ano. Até porque Marcelo já tinha alertado após as eleições que aquele resultado não significava "poder absoluto".
Perante a demissão do ministro Pedro Nuno Santos, recusou usar a "bomba atómica" por não vislumbrar "uma alternativa evidente e forte" à Direita. Porém, na viragem para 2023, exigiu "responsabilidade absoluta" a António Costa, com duras críticas ao seu Executivo e avisando que 2023 será o ano para dar provas de que é capaz de governar.
Conflitos
Avisos a Abrunhosa
Marcelo deixou avisos à ministra da Coesão em jeito de ameaça, a 5 de novembro: "Verdadeiramente superinfeliz para si será o dia em que eu descubra que a taxa de execução dos fundos europeus não é aquela que acho que deve ser".
"Vícios originais"
Afirmou, a 28 de dezembro, que a sucessão de demissões no Governo em nove meses significava que houve "vícios originais ou soluções que não provaram num espaço de tempo muito curto".
Questionário
Rejeitou a proposta inicial que Costa fez para escrutínio de quem é convidado para o Governo. Chegaram depois a um consenso, mas Marcelo avisou há dias que o questionário tem de abranger os atuais governantes.