Mais de 77% das vítimas mortais em 14 dias tinham mais de 70 anos. Peritos salientam fragilidade e garantem que imunidade se mantém muito elevada.
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Nos últimos 14 dias, das 136 pessoas que morreram em Portugal vítimas de covid-19, 105 tinham mais de 70 anos, mas especialistas ouvidos pelo JN afastam a necessidade de reforço da vacinação dos mais idosos, porque a "imunidade mantém-se muito elevada".
Segundo o relatório de sábado da situação, 19 dos 20 óbitos de sexta-feira referem-se a pessoas com mais de 80 anos (13 casos) e do grupo dos 70 aos 79 (seis). Analisando os dados da Direção-Geral da Saúde entre os dias 10 e 23, o JN verificou que 77,2% das 136 vítimas mortais tinham mais de 70 anos.
O relatório das "linhas vermelhas" do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge e da DGS indica que o grupo dos maiores de 80 anos registou uma incidência cumulativa a 14 dias (até dia 21) de 128 contágios por 100 mil habitantes. Embora seja a segunda mais baixa, foi a que mais aumentou numa semana (+54%), o que "poderá vir a traduzir-se no aumento de internamentos e mortes nas próximas semanas".
O imunologista Miguel Prudêncio, do Instituto de Medicina Molecular, crê que a maior transmissibilidade e a prevalência (quase total) da variante Delta do coronavírus SARS-CoV-2 ajudam a explicar os dados.
"Há muito mais vírus espalhados e mesmo as pessoas vacinadas estão expostas", completa Miguel Castanho, da Comissão Técnica da Vacinação Covid, recordando que nenhuma vacina é 100% eficaz.
O problema é que a população idosa é mais frágil, muitas vezes com várias doenças (comorbilidades). "Estes números seriam dramaticamente muito superiores se não fossem as vacinas", enfatiza Miguel Prudêncio.
Tendo sido os primeiros vacinados, justifica-se uma terceira dose? "A posição da generalidade da comunidade científica é que não existe nenhuma indicação de que seja necessário para já", afirma o especialista.
Os dados da monitorização das populações vacinadas indicam que "a imunidade é duradoura, robusta e que se mantém muito elevada", sustenta. "A persistência da proteção imunitária está garantida, permitindo antever uma imunidade duradoura - e estamos a falar de anos", acrescenta Miguel Castanho.
A hipótese de uma terceira dose só poderia colocar-se depois de toda a população estar vacinada, nota.
Situação
Máximos de março
Na sexta-feira, registaram-se 20 óbitos, o número mais elevado desde 18 de março (21), e um total de 3396 casos de contágio, confirmando-se a gravidade da situação. No território continental, a incidência de 430,8 casos por 100 mil habitantes.
Incidência cumulativa
O grupo etário dos 20 aos 29 anos registava, no dia 21, a incidência cumulativa a 14 dias dos contágios mais elevada, com mil casos por 100 mil habitantes. Segue-se o grupo dos 30 aos 39, com 660, e o dos 10 aos 19, com 614. Na infância (zero aos nove anos), era de 473.