A Direção-Geral da Saúde recomenda a imunização das crianças entre os 5 e os 11 anos, com prioridade para as de risco.
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Doze dias depois da aprovação da Agência Europeia do Medicamento, a Direção-Geral da Saúde (DGS) recomendou, na terça-feira, a vacinação das crianças entre os 5 e os 11 anos, com prioridade para as que têm doenças consideradas de risco para covid-19 grave. Ainda não foi anunciada a data de arranque da campanha, mas há cerca de 638 mil crianças elegíveis para vacinar, o que se espera que aconteça antes de começar o segundo período letivo, a 10 de janeiro. Uma operação em larga escala, cujos detalhes ainda estão a ser afinados.
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A DGS remeteu esclarecimentos sobre o calendário e a logística da vacinação para uma conferência de imprensa depois de amanhã, que decorrerá em conjunto com o Núcleo de Coordenação de Apoio ao Ministério da Saúde. As primeiras 300 mil vacinas são esperadas na segunda-feira, no mesmo dia que chegam a Espanha e a Itália, que já anunciaram o arranque da vacinação na mesma semana (ler ao lado).
Ao que o JN apurou, a DGS e a tutela ainda estão a afinar pormenores como a data de início do processo - porque a prioridade continua a ser a terceira dose nos idosos e o reforço de quem tomou a Janssen - e os meios não são infinitos, como referiu há dias o coronel Carlos Penha Gonçalves, responsável pela task force da vacinação. O intervalo das duas doses e os procedimentos a tomar com os recuperados são outros detalhes a definir. A própria listagem das doenças de risco ainda não estará totalmente fechada.
A decisão favorável da DGS surge na sequência de uma "avaliação risco-benefício, numa perspetiva individual e de saúde pública" feita pela Comissão Técnica de Vacinação para a Covid-19, refere o comunicado enviado à Imprensa. Ao JN, o imunologista Luís Graça, membro daquela comissão, notou que mesmo as crianças saudáveis podem, ocasionalmente, ter complicações da doença. "Na Europa, 78% dos internamentos com estas idades nos hospitais são de crianças que não têm outras doenças", referiu. Em declarações à RTP, Carmo Gomes sublinhou que 220 crianças já estiveram internadas.
E a probabilidade de internamentos aumenta com a subida dos casos. No mesmo comunicado, a DGS refere que o número de novos casos de covid-19 em crianças tem vindo a aumentar - foram 5700 na última semana e, neste momento, há uma criança infetada por cada 100 - e que, apesar de a doença nestas faixas etárias ser habitualmente ligeira, "existem formas graves de covid-19 em crianças", com maior número de hospitalizações, principalmente se existirem outras doenças de risco.
Milhões de crianças já vacinadas
Numa altura em que ainda há muitas dúvidas sobre a vacinação deste grupo, especialmente entre os pais, Luís Graça sublinha que as vacinas foram adaptadas para esta faixa etária e garante que "são seguras". "Há milhões de crianças já vacinadas e não há reporte de situações que ponham em causa a segurança destas vacinas", disse o imunologista ao JN. Acrescentando que, além do benefício direto para a saúde das crianças, há também a realçar as vantagens para a normalização da vida escolar e social, tal como aconteceu com os adolescentes.
No comunicado, a DGS refere ainda que a comissão técnica de vacinação recomenda o acompanhamento da situação epidemiológica, da evidência científica e de pareceres dos estados-membros e que "a recomendação pode ser alterada sempre que se justifique, nomeadamente, caso venham a ser conhecidos mais dados sobre novas variantes".
Perguntas
Qual a vacina que está aprovada para o grupo dos 5 aos 11 anos?
A Direção-Geral da Saúde recomenda a vacina Cominarty da Pfizer/BioNTech aprovada pela Agência Europeia do Medicamento, no passado dia 25 de novembro, e a única até à data com autorização para administração pediátrica na Europa.
Quais as diferenças para as vacinas dos adultos?
As vacinas para as crianças dos 5 aos 11 anos são diferentes das dos adolescentes e adultos. As doses são três vezes inferiores (10 microgramas em comparação com 30 microgramas), mas a resposta imunitária é idêntica. Tal como nos adultos, requer duas doses, tomadas com um intervalo de três semanas, como aprovado pela Agência Europeia do Medicamento (EMA, na sigla inglesa).
Quais são os efeitos secundários nas crianças?
Segundo a EMA, os efeitos secundários da Cominarty nas crianças dos 5 aos 11 anos são semelhantes aos das pessoas com 12 anos ou mais. Incluem dor no local da injeção, cansaço, dor de cabeça, vermelhidão e inchaço no local da injeção, dores musculares e arrepios. "Esses efeitos são geralmente leves ou moderados e melhoram alguns dias após a vacinação", refere.
Quando e onde as crianças vão ser vacinadas?
As primeiras vacinas chegam na próxima segunda-feira, mas ainda não se sabe qual a data oficial de arranque da campanha de vacinação nesta faixa etária. A Direção-Geral da Saúde e o Ministério da Saúde remetem mais esclarecimentos para uma conferência de imprensa depois de amanhã.