O número de utentes em tratamento devido a problemas relacionados com o consumo do álcool aumentou no ano passado. Em 2021, segundo os dados do relatório anual que traça o retrato da "situação do país em matéria de álcool", cerca de 13 242 pessoas encontravam-se a ser acompanhadas em regime de ambulatório. Dos quase 4500 que iniciaram tratamento nesse ano, 1 320 foram readmitidos após uma recaída e 3 158 eram novos pacientes. Também o número de internamentos aumentou face a 2020, um ano marcado pelo início da pandemia.
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O relatório do Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências (SICAD), que será apresentado esta quarta-feira na Assembleia da República, mostra também um aumento do número de mortes por intoxicação alcoólica durante o ano passado.
"Em 2021 aumentou 4% o número de utentes em ambulatório, após a descida em 2020 (o valor mais baixo desde 2016), estando ainda um pouco aquém dos valores pré-pandemia", lê-se no relatório ao qual o JN teve acesso.
Segundo o documento, os internamentos em Unidades de Alcoologia/ Unidades de Desabituação (UD) aumentaram 40% face a 2020, "ano em que se verificou um decréscimo relevante devido à pandemia, após a tendência de estabilidade entre 2017 e 2019". Também nas Comunidades Terapêuticas (CT) houve um acréscimo de 13% de internamentos. "Em 2021, os internamentos em CT já atingiram os números pré-pandemia, mantendo-se os das UD ainda muito abaixo", detalha o relatório.
Citando os dados do Instituto Nacional de Medicina Legal e Ciências Forenses, o relatório aponta para 1 014 óbitos positivos para o álcool em 2021: 34% foram atribuídos a morte natural, 32% a acidente, 12% a suicídio e 4% a intoxicação alcoólica. Trata-se de "um aumento das mortes por intoxicação alcoólica após as descidas nos dois anos anteriores, embora se mantenha abaixo do valor de 2019".
Também os indicadores de problemas sociais ou legais registaram aumentos, "após as descidas sofridas em 2020 devido à pandemia". Em 2021, houve "545 diagnósticos principais relativos a comportamentos relacionados com o consumo de bebidas alcoólicas que afetam o bem-estar e desenvolvimento da criança". São mais 18% face a 2020.
10% dos jovens bebem todos os dias ou quase
De acordo com o relatório, em 2021, no inquérito anual "Comportamentos Aditivos aos 18 anos" não se verificaram "alterações relevantes nas práticas de consumo de bebidas alcoólicas face a 2019 e 2018". As prevalências de consumo de uma qualquer bebida alcoólica foram de 89% "ao longo da vida", 86% nos últimos 12 meses e de 68% nos últimos 30 dias. Cerca de 10% dos jovens com 18 anos, detalha o documento, declarou ter um consumo atual diário ou quase diário de bebidas alcoólicas.
Com bases nos dados da Autoridade Tributária, o SICAD indica que, em 2021, foram vendidas cerca de 492 milhões de litros de cerveja; 32,1 de outras bebidas fermentadas; 15,7 de produtos intermédios e 8 milhões de litros de bebidas espirituosas. Trata-se de "subidas nos quatro segmentos de bebidas face a 2020".