Até segunda-feira houve 121 dias acima da média contra 104 em 2021. Só agosto, setembro e outubro com menos de 10 mil óbitos.
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O presente ano conta já mais dias com excesso de óbitos do que o total verificado em 2021, ano em que morreram quase 125 mil pessoas. Os dados do eVM - sistema de vigilância da mortalidade em tempo real - contabilizam, até à passada segunda-feira, 121 dias em que o número de óbitos registado ficou acima do esperado (mais 17 face ao ano passado, com 104). Num ano em que apenas os meses de agosto, setembro e outubro fecharam com menos de 10 mil óbitos. Em 2021, janeiro, fevereiro, novembro e dezembro ficaram acima daquela cifra. Envelhecimento da população, ondas de calor ou impactos da pandemia são hipóteses em cima da mesa, num fenómeno que requer investigação. E que o Ministério da Saúde tem em curso.
Em termos acumulados, a vigilância da mortalidade do eVM - os dados são provisórios, porque são constantemente atualizados os certificados de óbito - contabilizava, até segunda-feira, 114 353 mortes, menos 1308 face a período homólogo do ano passado e mais 1570 face a 2020. Os dois últimos anos, recorde-se, fecharam, cada um, com mais de 120 mil óbitos. Respondendo 2022, à data, pelo terceiro valor mais elevado desde 1950, de acordo com as estatísticas do INE. Analisando os dados da Direção-Geral da Saúde, até ao dia 4 registavam-se 6573 mortes por covid, contra 11 551 em período idêntico do ano passado.
Janeiro de 2021, em plena onda pandémica, recorde-se, fechou com um excesso de mais de 6500 mortes, com o dia 20 de janeiro a registar 748 óbitos por todas as causas. Neste ano, o máximo de mortes diárias registou-se a 14 de julho, com 459 óbitos. Altura em que se registou um dos maiores picos de mortalidade do ano, com 31 dias consecutivos em excesso. Pior, só o período de 15 de janeiro a 19 de fevereiro.
Refira-se que em maio e em junho Portugal registou a mais alta taxa de excesso de mortalidade da União Europeia. Analisando os dados do EuroMOMO, que monitoriza a mortalidade na Europa, na última semana de novembro o nosso país registava um baixo excesso de mortalidade.
Envelhecimento da população
Dados que levaram o Ministério da Saúde a anunciar, em agosto, um "estudo aprofundado" sobre a mortalidade em Portugal. Explicando na altura ao "Público" que o padrão "sofreu uma alteração após o início da pandemia, com o aumento da mortalidade anual, que poderá resultar de relações sinérgicas entre vários fatores".
Ao JN, Carlos Antunes põe a tónica no envelhecimento da população, notando que o aumento da mortalidade, que se verifica nas faixas etárias superiores, acompanha o acréscimo de pessoas com 65 ou mais anos. Numa análise estática, "na média 2015-2019 há claramente um excesso". Contudo, introduzindo nos cálculos a variabilidade do envelhecimento, "que aumenta a morbilidade", o "excesso não é assim tão significativo". Segundo o professor da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, "o envelhecimento está a explicar mil óbitos a mais por ano". Pelo que é preciso "perceber as causas de morte e o impacto da covid longa".
Vasco Ricoca Peixoto, da Escola Nacional de Saúde Pública, levanta, juntamente com três investigadores num artigo publicado na Ata Médica Portuguesa, "algumas causas possíveis", não relevando o impacto do envelhecimento da população. Desde a "covid e sequelas pós-covid, aumentando o risco, sobretudo nos mais velhos, de enfarte e de AVC". Ou "a descompensação de doenças crónicas", bem como "alterações socioeconómicas e comportamentais". Hipóteses para investigação, sendo certo, vinca, que "em 2022 o que vemos é que estamos, sistematicamente, desde janeiro, acima do esperado [linha de base] no ano inteiro" (ver infografia). "Há alguma coisa de diferente na sociedade, porque mesmo sem grandes picos as pessoas estão a morrer mais na mesma", diz Vasco Ricoca Peixoto.
Excesso
Na manhã de terça-feira (os dados são constantemente atualizados, sendo por isso provisórios), o eVM registava 298 óbitos em excesso nos últimos sete dias.
Várias causas
Fatores como o frio, o calor a gripe ou a covid estão associados a períodos de excesso de mortalidade. Outras causas são monitorizadas pela DGS e pelo INSA. Questionada, a DGS não respondeu.