Marcelo Rebelo de Sousa dedicou o discurso das comemorações do 5 de Outubro à evolução da República e da democracia no país, para sublinhar que ambas estão vivas e têm superado adversidades, mas sabem que "têm de mudar e muito". Ainda assim, uma república democrática é melhor do que ditadura e repressão, afirmou.
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Passando por vários momentos históricos do país, o presidente da República lembrou que a República, com 114 anos, e a democracia, com 50, souberam evoluir e adaptar-se. Ainda assim, a República "não é perfeita, nem está acabada. É obra de todos os dias de sucessivas gerações de portugueses", considerou, afirmando que tem de ser "mais livre, mais igual, mais justa, mais solidária" e tocando em vários pontos em que é necessário mudar, como a pobreza de mais de dois milhões de pessoas, os problemas de corrupção, a desigualdade e o envelhecimento coletivo.
Ao longo seu discurso, de cerca de sete minutos e meio, o chefe de Estado falou dos confrontos, desafios e crises a que resistiram a República, ao longo de 114 anos, e a democracia em Portugal, nos últimos 50 anos, incluindo, mais recentemente, "à pandemia e a guerras como a da Ucrânia ou do Médio Oriente".
"A República e a democracia assistiram a partidos e forças sociais subirem e descerem, ao surgimento de outras, década após década, e, às vezes, à adaptação das originárias", mencionou.
Na sua intervenção na sessão solene comemorativa do 114.º aniversário da Implantação da República, na Praça do Município, em Lisboa, o chefe de Estado falou dos portugueses que emigraram neste século e também dos imigrantes, "falantes e não falantes de língua portuguesa", que chegaram ao país. "Tudo hoje perfazendo 11 milhões vivendo cá dentro, e mais do que esses 11 milhões nacionais e lusodescendentes vivendo lá fora. E, nos que vivem cá dentro, um milhão de não nacionais, neles claramente dominando os lusófonos", referiu.
Marcelo Rebelo de Sousa acrescentou que "República e democracia viram como, ao lado do catolicismo, avultaram outras importantes confissões cristãs, em rápida subida, e também outros numerosos credos e igrejas e não crentes", e comentou: "Mosaico riquíssimo, bem diferente de alguns dos nossos vizinhos europeus".
Na parte final do seu discurso, o Presidente da República defendeu os valores da liberdade, pluralismo e tolerância: "Viver com liberdade é muito melhor do que viver com repressão. Pluralismo é muito melhor do que verdade única. Tolerância e universalismo é muito melhor do que aversão ao diferente e fechamento. A mais imperfeita democracia é muito melhor do que a mais tentadora ditadura".
Pelo segundo ano consecutivo, as cerimónias da Implantação da República, que se realizaram na Praça do Município, em Lisboa, foram vedadas ao público, tendo acesso apenas pessoas autorizadas.
Nas ruas circundantes à Praça do Município, onde decorreu a sessão solene do 114.º aniversário da Implantação da República, barreiras policiais estão a controlar o acesso ao recinto, solicitando uma acreditação para permitir a passagem, segundo constatou a agência Lusa no local.
Também nas cerimónias de 2023 o acesso à Praça do Município tinha sido condicionado aos populares, tendo sido colocadas baias de segurança a cerca de 150 metros das entidades oficiais que assistiam aos discursos do dia.
Fonte da Câmara Municipal de Lisboa disse à Lusa que os condicionamentos e todas as responsabilidades da segurança eram da PSP.