O presidente da República não ficou "surpreendido" e não considera que o número de 400 queixas de abusos, recebidas pela Comissão Independente, seja um número "particularmente elevado".
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Interpelado sobre as 424 queixas validadas pela Comissão Independente para o Estudo dos Abusos de Menores na Igreja (CIEAMI), divulgadas esta terça-feira, Marcelo começou por garantir não ter ficado "surpreendido" com o número.
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"Haver 400 casos não me parece particularmente elevado porque noutros países com horizontes [temporais de investigação] mais pequenos houve milhares de casos", referiu o presidente da República, frisando que estamos perante um "universo de milhões" que contactaram com a instituição ao longo de sete, oito ou nove décadas.
O chefe de Estado rejeita ainda que a Igreja fique manchada pelas denúncias. "Nunca se fica manchado quando se pretende apurar a verdade", sublinhou aos jornalistas. Marcelo admite, no entanto, que as queixas possam forçar as instituições a reverem-se, incluindo a própria Igreja.
"Todas as instituições que tenham comportamentos que se venham a provar criminosos estão obrigadas a fazer uma revisão de vida", defendeu, concluindo: "É bom haver transparência na democracia. Negativo é haver opacidade a todos os níveis".
Nas últimas semanas, recorde-se, o próprio presidente esteve envolvido numa polémica por ter sido divulgado que comunicou a D. José Ornelas que tinham enviado para a Procuradoria-Geral da República uma denúncia de alegado encobrimento pelo presidente da Conferência Episcopal Portuguesa de um caso de abuso.
IL, Chega, BE, PAN e Livre criticam declarações
No Twitter, o líder parlamentar do BE começou por considerar "um insulto às mais de 400 vítimas" as "miseráveis declarações" de Marcelo, defendendo que não esteve "à altura" do cargo. "O Presidente da República já pediu desculpa às vítimas de abusos sexuais na Igreja e às suas famílias pelas miseráveis declarações de hoje e por não ter estado à altura do cargo que ocupa?", questionou Pedro Filipe Soares.
Já a Iniciativa Liberal, através da sua página oficial, lamentou "profundamente o comportamento do Presidente da República no caso dos abusos sexuais de menores no seio da Igreja". "O presidente mostra estar mais preocupado em ilibar e relativizar a gravidade do comportamento de vários elementos da Igreja Católica do que com as vítimas dos atos hediondos. Marcelo Rebelo de Sousa deve um pedido de desculpas às vítimas e ao país", defendem os liberais.
Também o presidente do Chega, André Ventura, considerou "infelizes" as declarações do chefe de Estado na mesma rede social. "Uma vítima de abusos sexuais, mesmo que fosse só uma, já seria muito grave. O país deve pedir desculpa às vítimas - e o Presidente também - e não menorizar o seu sofrimento!", apelou.
Também através do Twitter a porta-voz do PAN, Inês Sousa Real, afirmou que "um caso que fosse era grave, muito grave e repudiável, quanto mais 400!". "É incompreensível a desvalorização dos abusos sexuais de menores na igreja por parte do Presidente da República e inaceitável o contacto que fez ao bispo José Ornelas sobre a denúncia", criticou.
Pelo Livre, Rui Tavares dirigiu-se diretamente a Marcelo: "Senhor Presidente, imagine todo o sofrimento e coragem que foi preciso para que 400 pessoas partilhassem as histórias de abusos que guardaram durante anos. As suas declarações podem ter por consequência minimizar esse sofrimento e desencorajar quem ainda procura forças para falar".
A deputada do PS Isabel Moreira também apelidou de "inaceitável" esta posição de Marcelo Rebelo de Sousa.
