O presidente da República disse esta terça-feira que a Igreja vai ter de "mudar de vida" para fazer face às situações que foram identificadas pelo relatório dos abusos sexuais na Igreja portuguesa, ontem conhecido. "É evidente que uma instituição que se confronta com este tipo de relatório é levada a mudar de vida. É inevitável", disse Marcelo Rebelo de Sousa aos jornalistas no Palácio de Belém, admitindo que os dados agora conhecidos sejam apenas "uma parte do fenómeno" e desejando que a reação da Igreja não demore. "Quanto mais rápida e mais clara for, melhor", disse.
Corpo do artigo
"Seria muito estranho que, como consequência daquilo que se publicou, não houvesse uma responsabilidade", afirmou o presidente da República, referindo-se quer ao "afastamento daqueles que podem ter uma atuação reincidente, repetida", quer no "funcionamento das estruturas da instituição ". Seria estranho que "não se tirassem lições para o futuro", afirmou Marcelo Rebelo de Sousa.
O presidente da República admitiu que os dados agora vindos a público "podem ainda ser uma parte do fenómeno e não todo o fenómeno que existe na sociedade portuguesa", aludindo ao facto de a própria comissão alertar para o facto de haver uma cultura de ocultação e de "muito medo". "Essa cultura cívica é fundamental que seja ultrapassada", defendeu.
O presidente da República admitiu que "a igreja tem de repensar a sua atuação no futuro", uma vez que nalguns casos subavaliou, noutros demorou muito tempo a reagir e noutros ainda estará a querer compreender o que se passou.
"Dever ético de se responsabilizar"
"Não é um fenómeno do passado, dos anos 90. É um fenómeno que continuou e que continua até hoje", admitiu Marcelo Rebelo de Sousa, assinalando que a Igreja tem "um dever ético de se responsabilizar" pelas vítimas, dever que "abrange o apoio psicológico que continua a ser muito importante".
Questionado sobre se os resultados desta investigação podem manchar a JMJ, Marcelo defendeu que uma coisa são " factos concretos de uma jornada em que os participantes vêm sobretudo do estrangeiro" e outra é " uma realidade que não tem diretamente a ver" e que tem "uma responsabilidade mais de fundo e que "implica mudanças de vida".
Quanto ao impacto futuro da relação dos portugueses com a Igreja Católica, o presidente admite que isso "depende da reação da Igreja". "Em muitos países as igrejas nacionais tiveram a iniciativa de enfrentar o fenómeno e de agir rapidamente e exemplarmente", o que deu um bom resultado da visão que a sociedade tinha e tem da igreja.
"Noutros países demorou muito tempo , resistiram a mudar, demoraram muito tempo a proceder a uma revisão de vida", o que prejudicou, apelando a que no caso de Portugal a Igreja seja "rápida e clara a agir".