Presidente chega ao fim do mandato com uma taxa de pobreza acima dos 16% e o número de sem-abrigo a subir. Lagos recebe comemorações
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São mais de 300 quilómetros que separam Lisboa de Lagos, as cidades que marcam o primeiro e o último Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas com Marcelo Rebelo de Sousa ao leme do país. Em nove anos, o presidente da República descentralizou as comemorações, correu o país, do Litoral ao Interior, e aproveitou a ocasião para enaltecer os feitos do povo português. Nos discursos, priorizou o combate à pobreza, a necessidade de mudar o país e o apelo à igualdade. A escritora Lídia Jorge preside hoje as comemorações deste ano, que se estendem do Algarve a Macau.
Antes do derradeiro discurso, Marcelo disse ontem que a sua missão foi “polivalente”. “Houve pandemia, houve incêndios, houve um pouco de tudo". Mas, afinal qual foi o país que herdou e qual é o que deixa ao futuro presidente?
À cabeça temos o combate à desigualdade e à pobreza. Um flagelo sinalizado desde cedo pelo presidente da República numa altura em que Portugal ainda ressacava dos anos da troika, marcados por altos níveis de desemprego e a quebra de rendimentos para a generalidade das famílias. A verdade é que atualmente há menos portugueses em risco de pobreza, mas o problema está longe de ser resolvido. Em 2016, 18,3% da população portuguesa estava exposta a essa situação e os dados mais recentes apontam para 16,6%. A diminuição do número de sem-abrigo foi outra das bandeiras do chefe de Estado, mas os números oficiais referem a existência de quase 11 mil pessoas nessa situação.
Mais salário e inflação
Neste período o salário mínimo nacional subiu todos os anos, passando de 557 euros em 2017 para 870 euros em 2025. São mais 313 euros no final do mês para os trabalhadores com remunerações mais baixas. No salário médio, que inclui o subsídio de refeição e horas extraordinárias, verificou-se uma subida dos 1 196 euros para mais de 1600 euros de remuneração bruta total. Há mais pessoas empregadas e o desemprego baixou. O número médio de empregos subiu de 4,6 milhões de pessoas para 5,5 milhões, alcançando valores recordes desde fevereiro de 1998. Já o desemprego fustigou 573 mil pessoas ao longo de 2016 e desceu para 365,8 mil em 2025.
Contudo, mais rendimento não significa mais dinheiro no bolso. E há indicadores que se agravaram e refletem o aumento do custo de vida. No primeiro ano de Marcelo em Belém, a taxa de inflação foi de 0,6% e está neste momento em 2,1%. Na habitação, os preços das casas também estão em alta. Se em 2016 aumentaram 7,1%, em 2024 o aumento foi de 9,1%. O crescimento foi quase o triplo daquele que se verificou nos restantes países da União Europeia, onde os preços aumentaram em média 3,3%.
Se olharmos para a dinâmica da população, as mudanças são mais profundas. Desde logo somos mais, apesar de nascerem cada vez menos bebés. Entre 2016 e 2024, o número de residentes em Portugal cresceu e passou de 10 309 573 habitantes para 10 639 726. Em 2016, nasceram 87 126 bebés e a taxa de natalidade já era a segunda mais baixa da UE. O número caiu para 84 642 em 2024 e um terço eram filhos de mães de naturalidade estrangeiro, numa altura em que o país já recebeu mais de um milhão de imigrantes desde 2016, são cerca de 1 546 521.
Retratar a diferença
Para o futuro, o próximo presidente vai herdar o Parlamento mais à Direita em 50 anos de eleições livres e um Governo com três anos pela frente após anos com muita instabilidade. Marcelo já referiu que a escolha será entre um chefe de Estado "de gastronomia forte ou mais suave”.
Enquanto comia uns salgados, em Lagos, o presidente defendeu que Portugal tem "uma democracia muito rica" e que "os portugueses são muito diferentes, e, portanto, os presidentes têm que retratar essa diferença dos portugueses".