O presidente da República não vai falar ao país após a promulgação do decreto que regula o estado de emergência, ao contrário do que tem sido habitual. Das 13 vezes em que o regime de exceção foi aprovado, Marcelo Rebelo de Sousa só não falou quando essa aprovação se verificou durante a campanha para as presidenciais.
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Das seis primeiras vezes em que, desde março de 2020, o estado de emergência foi decretado, o chefe de Estado tinha sempre falado ao país. Em dezembro, depois de ter confirmado que era recandidato à Presidência da República, anunciou que deixaria de o fazer até às eleições de 24 de janeiro.
Assim, nas aprovações de 17 de dezembro, 6 e 13 de janeiro, Marcelo apenas fez publicar uma curta nota no site da Presidência, dando conta de que o Parlamento tinha permitido a renovação do estado de emergência. A 28 de janeiro, já depois da ida às urnas, voltou a dirigir-se ao país em direto nas televisões a respeito desta temática.
O corte com o procedimento habitual, e a curta nota publicada no site de Belém dando conta da assinatura do decreto de estado de emergência até 31 de março, tem sido interpretado como um distanciamento de Marcelo face ao Governo, devido a eventuais divergências sobre a forma de levar a cabo o desconfinamento. Mas há uma diferença: ao contrário do que tem ocorrido, desta vez o primeiro-ministro fala ao país no mesmo dia em que o Parlamento aprovou o decreto, e não apenas no dia seguinte.
Questionado pelo "Expresso" sobre os moldes do plano de desconfinamento, Marcelo respondeu: "Não posso comentar decisões sobre o que ainda não conheço". Na quarta-feira, recorde-se, presidente e primeiro-ministro tinham jantado juntos, um encontro que, acredita-se, teria sido agendado para discutir a reabertura do país.
Uma possível explicação para Marcelo não ter falado aos portugueses prende-se também com o facto de o presidente estar em viagem para Itália. Esta sexta-feira de manhã, tem agendada uma audiência com o Papa e à tarde reúne-se com o rei de Espanha no Palácio Real, em Madrid.
O JN questionou a Presidência sobre o motivo de Marcelo não se dirigir ao país, mas não obteve resposta.