O presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, disse, este sábado, no final do funeral do operador de uma máquina de rasto que morreu durante o combate a um incêndio, em Mirandela, que mais do que saber o que falhou no combate aos fogos este verão, é preciso fazer melhor.
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"Sensibilizar todo o país. Este país que aceita facilmente que para circular numa grande metrópole sejam investidos 200, 300 ou 400 milhões, mas não percebe que é tão urgente investir 100, 200 ou 300 milhões na prevenção dos fogos", vincou.
Para o presidente da República, não é apenas uma questão de apostar na prevenção. "É a solidariedade que tem de haver para que o país todo compreenda que prevenir, permanentemente, como os sapadores florestais, que estão ali, e ganham umas centenas de euros" fazem.
Lançou ainda um apelo para que todas as entidades envolvidas com esta área reflitam. "O governo já abriu caminho para que as medidas sejam tomadas e também já disse que é fundamental haver um acordo entre partidos e entidades da sociedade portuguesa. Para haver um acordo a 25 anos, porque não há nenhum governo que chegue a 25 anos. Em Portugal chegar a quatro já é um milagre", salientou, pedindo um plano "a longo prazo" que implique "apostar a sério em todo o país, em meios reforçados para a prevenção e combate", porque "não basta haver leis, é preciso que elas sejam cumpridas".
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O chefe de Estado admitiu que "é preciso acelerar o cadastro do território", garantindo que "quem pode limpa e quem não pode não limpa, mas alguém que limpe e têm de ser entidades públicas", sugeriu, defendendo que as autarquias "tenham dinheiro para isso".
No entender doe Marcelo, esta "é uma missão nacional", onde as autarquias se substituem aos privados que não podem limpar.
Para as famílias já existe resposta, segundo o chefe de Estado, e com as novas medidas do governo "foram aumentadas e reforçadas". Não havia nada na lei em 2017 que permitisse indemnizar as famílias. "Foi preciso criar a partir do nada. Hoje há. Há um leque de medidas. Vai-se aprendendo de fogo para fogo, mas em vez de se criar medidas para cada fogo devia haver um quadro de medidas para todos, que permita que o governo instantaneamente possa fazer sem aprovar novas leis e imediatamente ir aos sítios entregar às corporações aquilo que lhe falta em termos financeiros, [bem como] às famílias de todos os que tiveram danos de uma forma de outra", indicou.
Marcelo Rebelo de Sousa admite que não havia medidas para apoiar os danos dos incêndios, "depois passou haver, mas o processo é lento e precisa de ser mais rápido na reparação dos danos", pediu.
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Sobre uma reorganização da Proteção Civil de novo por distrito, o chefe de Estado respondeu que "ainda temos fogos, pouco, mas ainda temos, e podem aparecer em setembro e outubro. Em 2017 ninguém imaginava que iam aparecer em outubro, foi um choque monumental depois de termos encerrado o dossiê em junho", acrescentou.
"Mais do que consolar é agradecer"
Ainda no funeral do operacional que morreu em combate aos fogos, Marcelo Rebelo de Sousa afirmou que "mais do que consolar é agradecer". "Agradecer a todos que serviram a Proteção Civil, serviram ao longo deste mês continuo, muito cansativo e desgastante", afirmou em Cotins, aldeia donde a vítima, Adolfo Santos, de 65 anos, foi a enterrar, uma cerimónia acompanhada por cerca de 300 pessoas.
O presidente da República elogiou ainda as populações e os emigrantes que vieram passar o verão com a família. "Houve um esforço conjunto de combate, com grande dedicação e heroísmo e, naturalmente, as suas populações. Contam a sua história e eu agradeço-lhe o que fizeram. É impressionante esse testemunho", acrescentou.
O chefe de Estado admitiu que "é evidente" que muitos populares de Norte a Sul se mostrem enraivecidos face aos incêndios deste verão. "Eu assisti a fogos, desde 2005, mais insistentemente em 2017. Participei em muitas cerimónias fúnebres em muitos municípios. (...) Mas o importante é tirar outra lição de que se tem falado pouco. Há um país, que é este país dos fogos, que nem sempre é devidamente compreendido por outra parte do mesmo país que somos todos nós", afirmou.
"Portugal mudou muito nos últimos 50 anos, aumentaram as cidades e as metrópoles, só que nas cidades o fogo é outra coisa. O fogo urbano é diferente, e temos dificuldade em perceber o drama de pequenas aldeias, como aconteceu ontem e hoje, e pode acontecer nos próximos dias. Estão isoladas no cimo de montanhas, onde o acesso é muito difícil e nem sempre é possível haver meios aéreos porque o teto fica tão baixo, que não podem operar. O que é facto é que essas pequenas aldeias ficam abandonadas à sua sorte, porque continuam a ter gente, mas pouca", concluiu.