Várias centenas de agricultores estão a manifestar-se, esta quarta-feira, em Vila Real, contra as políticas nacionais e europeias para a agricultura, nomeadamente a familiar, e para a criação de gado. Exigem ser tratados com dignidade e rendimentos que lhes permitam viver e continuar a atividade.
Corpo do artigo
Já passava das 11 horas da manhã quando saíram da área junto ao cemitério de Santa Iria, em Vila Real, para fazerem uma marcha lenta até à Câmara Municipal, onde será aprovado um caderno de reclamações que depois há de ser enviado ao presidente da República, Governo e partidos políticos.
Vítor Herdeiro, viticultor duriense, foi à manifestação porque “o preço a que é paga a pipa de vinho ainda é mais baixo que há 20 anos”, enquanto “o valor dos custos de produção é incomparavelmente mais elevado do que naquela época”. Por esta razão, “começa a ser incomportável ser agricultor do Douro”.
No Parque Nacional da Peneda-Gerês, o descontentamento tem a ver com as ajudas aos criadores de gado que precisam de usar terrenos baldios para lhes terem direito. Márcio Azevedo diz estar preocupado com a “sustentabilidade das pequenas explorações do parque e de todo o ecossistema que se mantém com a agricultura”.
Márcio Azevedo sublinha que “ao retirar mais de 50% dos apoios que são dados aos baldios na vertente da cedência de área como complemento das explorações pecuárias, significa estar a matar as explorações”. E como tal, “é estar a convidar ao abandono da agricultura e, ao mesmo tempo, introduzir graves alterações no Parque Nacional, nomeadamente na sobrevivência do lobo ibérico”.
A marcha lenta foi convocada pela Confederação Nacional da Agricultura (CNA) e suas associadas e aderiram agricultores de vários concelhos da região transmontana e até do distrito de Viseu.
A CNA reuniu na segunda-feira com a ministra da Agricultura e, no final, emitiu um comunicado em que disse que as “manobras de diversão do Governo são inaceitáveis e só reforçam a necessidade de lutar por outras e melhores políticas agrorurais”.
A Confederação Nacional da Agricultura disse que, para além da redução do Imposto sobre Produtos Petrolíferos (ISP) do gasóleo agrícola, que é uma medida considerada “positiva, mas que já estava prevista no Orçamento do Estado para 2024”, e da compensação dos cortes nas candidaturas aos ecorregimes “Agricultura Biológica” e “Produção Integrada”, todas as outras medidas anunciadas “são virtuais”.
Frisou ainda que “são um caderno de intenções que o Governo sabe que não pode concretizar porque não tem garantias de Bruxelas de que vai ser aprovado. Na melhor das hipóteses, parte das medidas, a concretizar-se, só chegaria aos agricultores em 2026”.