A coordenadora do BE, Mariana Mortágua, acusou esta sexta-feira o Governo de estar numa "deriva autoritária" e de achar que a maioria absoluta "lhe vale só por si", advertindo que está em curso "um processo estrutural de empobrecimento do país".
Corpo do artigo
No final de uma audiência com o presidente da República, que começou hoje uma ronda de auscultação dos partidos com assento parlamentar, Mariana Mortágua disse ter transmitido a Marcelo Rebelo de Sousa a sua preocupação com um "processo estrutural de empobrecimento do país".
"Os preços subiram muito, os juros do crédito à habitação subiram muito, as rendas subiram muito, mas os salários não subiram, o que quer dizer que uma maioria da população portuguesa empobreceu", advertiu.
Mariana Mortágua disse não ver "qualquer resposta" do Governo para responder a essa situação e manifestou também preocupação com as "enormes dificuldades nos serviços públicos", destacando em particular os casos da habitação, da educação ou da saúde.
A coordenadora do BE disse antecipar "um início de ano letivo muito confuso, muito conturbado", devido à falta de professores, e também "um verão difícil na saúde, que já começou com problemas no hospital Santa Maria, com a transferência de uma série de grávidas para o privado".
"Manifestámos uma outra preocupação [ao Presidente da República] que é a de que, perante a incapacidade para resolver os problemas do país, (...) o Governo se deixe cair numa deriva autoritária, que acha que a maioria absoluta lhe vale só por si, mesmo sem resolver a vida das pessoas", frisou.
Mariana Mortágua considerou que essa deriva autoritária se viu quando o ministro da Administração Interna, José Luís Carneiro, "tentou interferir com a administração da RTP" ou quando o primeiro-ministro não comentou as "perigosas e gravíssimas suspeitas de corrupção no ministério da Defesa", alegando que Costa considerou que "os portugueses não querem saber da corrupção".
A coordenadora do BE considerou ainda que, também no caso da comissão de inquérito à TAP, se viu essa "tentação autoritária", acusando o executivo de ter começado "por enxovalhar" aquele órgão parlamentar e depois de procurar "omitir totalmente" no seu relatório os "episódios mais rocambolescos" que foram revelados.
"Nunca tinha visto um relatório de uma comissão de inquérito que apaga uma parte da história, que apaga audições, factos, trabalhos, documentos que foram analisados", criticou.
Para Mariana Mortágua, esta "deriva autoritária do Governo, numa tentativa espúria de se proteger perante as dificuldades do país, tornam o relatório da comissão de inquérito num documento inútil".
"É inútil porque não reflete a verdade, não tem qualquer preocupação em refletir o que se passou na comissão. Tem uma única preocupação, que é ilibar o Governo e construir uma ficção", sustentou.