Alia não guarda saudades das noites de trabalho e dos horários longos do SNS. Paulo Zoé fez a formação em território nacional e agrada-lhe que possa exercer na UE.
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Encontramos Alia Ramazanova em Lisboa, a trabalhar como tricologista numa clínica privada. É russa, mas cedo rumou a Moçambique, a acompanhar o pai. Ramil Ramazanov foi diretor do serviço de neurocirurgia de um grande hospital em Maputo. No final da década de 1990, decidiu, por boas referências de colegas e devido à semelhança da língua, vir para Portugal. O pai de Alia, garante ela, era um neurocirurgião brilhante que, em terra lusa, esbarrou com dificuldades de reconhecimento da carreira.
Conseguiu equivalência do curso de Medicina, que tinha feito na Rússia, mas não teve a mesma sorte com a especialidade. Acabou por trabalhar, até à reforma, como médico de família num centro de saúde. Alia Ramazanova recorda a história do pai com desgosto, por ele não ter conseguido terminar a carreira na área que mais gostava. Por outro lado, elogia as equivalências dentro da União Europeia, que lhe permitiram fazer a formação num país e exercer noutro.
Horários longos
Alia Ramazanova tem, hoje, 42 anos. Depois de passar a adolescência em Portugal, decidiu rumar a Espanha para seguir as pisadas do pai e formar-se em Medicina. Terminou a especialidade em Badajoz e, por proximidade geográfica, começou, em simultâneo, a prestar serviço de urgência no Hospital de Évora.
Antes, teve de fazer um exame de Língua Portuguesa e inscrever-se na Ordem dos Médicos - um processo que, recorda, foi "rápido e fácil" por se ter formado num país dentro da União Europeia (ao contrário do pai). Esses anos foram os únicos em que trabalhou para o Serviço Nacional de Saúde (SNS). Desse tempo, lembra noites de trabalho e horários longos, incompatíveis com a presença que desejava dar à família e aos filhos que já planeava ter.
Ingressou pela área da medicina estética - o que a obrigou a trabalhar para o privado. "Há outros países, como a Bélgica, em que a estética faz parte do serviço público, mas cá ainda não está perto de ser uma realidade". E se houvesse, trabalhava para o SNS outra vez? "Só se as condições mudassem drasticamente", afirma, referindo que o pagamento e a carga de trabalho no serviço público não são compatíveis com uma vida familiar.
Boa Formação nacional
A mesma ideia do SNS tem Paulo Zoé, internista na Unidade Local de Saúde da Guarda. "Há outros países que oferecem melhores condições, salários e regalias que o serviço público em Portugal, que já foi mais atrativo". Ainda assim, o médico de 36 anos, natural de Macau, diz que é o suficiente para satisfazer o que procura. Além disso, a localização convenceu-o.
"A tranquilidade, a qualidade de vida e o baixo custo nos gastos estão assegurados aqui, no interior de Portugal". Dentro da medicina interna, trabalha na área dos cuidados paliativos, o que lhe dá um sentimento acrescido de responsabilidade. "Exercer numa área em que está prevista a necessidade crescente do serviço ao longo dos anos devido ao envelhecimento da população e ao aumento de esperança média de vida é outra razão para a minha permanência", conta.
Paulo Zoé é um dos muitos médicos estrangeiros que se formaram já em território nacional. Chegou a Portugal em 2005 e arrancou para o curso de Medicina. Escolheu o nosso país por várias razões: uma delas foi "a facilidade de obter reconhecimento do curso pelos outros países da União Europeia". Para já, mantém-se pelo interior luso com orgulho, mas, caso decida um dia partir para outro país europeu, descansa-o saber que se formou médico num país que é bem reconhecido pela educação que oferece.