Os médicos e os enfermeiros do Serviço Nacional de Saúde (SNS) vão ter um "botão de pânico" para acionarem sempre que se sentirem ameaçados por um utente.
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Essa é uma de várias medidas que começam a ser aplicadas, de forma experimental, em três unidades de saúde do concelho da Amadora. As medidas serão monitorizadas durante seis meses a um ano e depois serão implementadas, de uma forma gradual, em todo o país, adianta a secretária de Estado da Saúde, Raquel Duarte, ao JN.
Foram as próprias unidades de saúde abrangidas que ajudaram a encontrar as soluções para um problema que "há muitos anos" preocupa o Governo. Só no ano passado, foram registadas 953 notificações de casos de violência para com médicos e enfermeiros do SNS. Acresce que, em 12 anos de existência, o Observatório Nacional da Violência Contra os Profissionais de Saúde no Local de Trabalho, afeto à Direção-Geral da Saúde, já totalizou 4639 notificações. Até ao final do primeiro trimestre deste ano, foram assinaladas 383 situações, avança a tutela.
"É um diagnóstico que nos preocupa. É preciso claramente trabalharmos esta questão", admite Raquel Duarte, referindo que, em 2017, já foram feitas várias ações de sensibilização junto dos profissionais de saúde para os alertar para a importância da notificação de todos os casos ocorridos.
código de alerta telefónico
Mas faltavam medidas práticas. Por isso, o Governo avançou com um projeto-piloto em três unidades de saúde do concelho da Amadora: Unidade de Cuidados de Saúde Personalizados da Brandoa, Unidade de Saúde Familiar Amato Lusitano e Hospital Fernando da Fonseca. "Nessas unidades, foram identificados profissionais capazes de mobilizar as pessoas, que fizeram um diagnóstico e estão a trabalhar com profissionais de saúde para encontrar soluções inovadoras para o problema", adianta a Secretaria de Estado.
Entre elas está a implementação de "botões de pânico", à semelhança do que fez Vigo há um ano, com um sistema que pode ser ativado a partir de qualquer computador da unidade de saúde. Em Portugal, haverá um código telefónico de alerta. "Foi uma proposta de um dos centros de saúde. Deverá ser uma chamada telefónica com um código acessível a todos os profissionais. Todos têm que ter a possibilidade de pedir ajuda", refere Raquel Duarte.
"Estas medidas vão ser monitorizadas de uma forma contínua, para depois serem ampliadas ao resto do país", acrescenta a secretária de Estado. O que deverá acontecer "ainda este ano".
Outras ações "variam entre melhorar o ambiente de trabalho e alterar os espaços físicos", adianta a secretária de Estado da Saúde, referindo que os profissionais também vão ser orientados para situações de potencial violência, para que saibam "o que devem fazer antes, durante e depois para se tentar minimizar o efeito".
Há ainda iniciativas de proximidade com a comunidade, formação, alteração de sinalética nos edifícios e de equipamentos, além de campanhas de informação.
RESPOSTAS
Gabinete de apoio
No mês passado, a Ordem dos Médicos criou um Gabinete de Apoio ao Médico, para dar resposta a situações de violência ou exaustão ("burnout"). O gabinete, coordenado pelos médicos Nídia Zózimo, João Redondo e Dalila Veiga, terá uma via de acesso direto e protegida.
Médicos com seguro
A Ordem dos Médicos também dispõe de um seguro que cobre situações de violência, difamações, injúrias, ameaças e coação no exercício da sua profissão.
Estudo com enfermeiros
A Ordem dos Enfermeiros participou, no início do ano, num estudo da investigadora Emelda Pacheco, da Universidade de Aveiro, que visa avaliar a experiência psicológica dos enfermeiros em atos de violência física e agressão psicológica perpetrados pelos utentes.
NÚMEROS
383 notificações no primeiro trimestre
Foi o total de notificações registadas pela Direção-Geral de Saúde nos primeiros três meses do ano. No ano passado, tinham sido 439 nos primeiros seis meses do ano. Em 2017, foram 678 todo o ano.
4639 queixas ao longo de 12 anos
É o total de notificações registadas desde a criação do Observatório Nacional da Violência Contra os Profissionais de Saúde. Em 2007, foram registadas 35. No ano passado, foram 953.