<br/> Dos 800 médicos estrangeiros que tentam reconhecer os seus cursos em Portugal, há 160 que já têm o aval de escolas médicas para poder ajudar no combate à pandemia. Só que a maioria está no Brasil, numa altura em que os voos entre os dois países foram suspensos para travar o vírus.
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Henrique Cyrne Carvalho, presidente do Conselho de Escolas Médicas Portuguesas (CEPM) e também diretor do ICBAS, no Porto, disse ao JN que há atualmente 160 clínicos que fizeram o curso no estrangeiro em condições de ser contratados pelo Governo, ao abrigo da exceção prevista no decreto que regulamenta o novo estado de emergência.
Dos cerca de 800 médicos inscritos para reconhecer cursos, 160 (118 numa fase e 42 na anterior) já realizaram com sucesso a prova necessária para que as unidades do Serviço Nacional de Saúde os possam, excecionalmente, contratar, até ao limite de um ano. Terão de comprovar ter sido já aprovados no exame teórico do processo de reconhecimento do grau e estar admitidos na Ordem, que não tem qualquer pedido para avaliação.
Os 160 que já podem ser contratados são de várias nacionalidades, mas a maioria brasileiros que estão no país de origem, numa altura em que os voos estão suspensos. Henrique Cyrne Carvalho diz que fez um levantamento e percebeu que, por exemplo, dos 118 que realizaram a última prova, "mais de 90% são brasileiros e, na sua grande maioria, estão fora do território nacional".
Segundo o presidente do CEMP, é normal aqueles médicos virem a Portugal "fazer as provas e, depois, a maior parte regressa aos países de origem", deixando "gabinetes de advogados" a tratar de questões administrativas. O JN questionou o Ministério da Saúde sobre se será agilizada a vinda daqueles médicos (uma vez que os voos estão suspensos até 14 de fevereiro), mas não recebeu resposta em tempo útil.
Cartão por um ano
Com o Governo a admitir que o que mais falta são recursos humanos para lutar contra a covid-19, o CEMP propôs que os médicos que passaram no exame teórico obtenham da Ordem dos Médicos (OM) "um cartão temporário", com validade de um ano.
Durante aquele período, trabalharão como "médicos não diferenciados, debaixo da responsabilidade" de outros médicos. Depois terão de terminar o processo de reconhecimento de competências. Seria um "esforço complementar" a somar aos médicos reformados ou que estão no privado.
Miguel Guimarães, bastonário da Ordem dos Médicos (OM) diz que "a OM vai avaliar a situação" quando receber pedidos, o que não aconteceu. Vários médicos estrangeiros relataram ao JN dificuldades em ver as competências reconhecidas em Portugal, como é o caso da cubana Yisel Medina (ler testemunho ao lado).
Ao JN, a OM diz que tem 4330 médicos estrangeiros inscritos. Só em 2020, foram admitidos 178. Na Secção Regional do Centro da OM, garante o presidente Carlos Cortes, não há pedidos de admissão pendentes. O PS insiste que há 100 médicos luso-venezuelanos que aguardam o reconhecimento da Ordem.