Após morte de bebé, sindicatos e bastonário atacam Governo por falta de pessoal. Marcelo diz que fecho de serviços de obstetrícia é preocupante, mas sistema deve mudar "como um todo".
Corpo do artigo
Os médicos exigem do Governo medidas concretas para contratar e fixar profissionais no Serviço Nacional de Saúde (SNS), após a morte de um bebé no hospital das Caldas da Rainha, do Centro Hospitalar do Oeste, quando as urgências de obstetrícia estavam encerradas. E avisam que a situação irá agravar-se com as férias. Perante o fecho de serviços em hospitais da região de Lisboa e Vale do Tejo, até amanhã, e quando também o de Braga encerra hoje a Urgência de obstetrícia, o presidente da República manifestou "preocupação". Mas defende "as mudanças necessárias" no sistema "como um todo" para "o adaptar à realidade".
O diagnóstico dos médicos incide na falta de condições para manter os profissionais, incluindo os obstetras. Também a Associação Europeia de Medicina Perinatal considera "muito preocupante" a situação, enquanto a Associação Portuguesa pelos Direitos da Mulher na Gravidez e no Parto avisa que a falta de médicos e enfermeiros começa a afetar a mortalidade materna.
Desvio até segunda-feira
A Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo procurou, por sua vez, atestar o funcionamento em rede, anunciando que, dia 10, houve 71 partos.
Confirmou que "haverá períodos em que alguns hospitais estarão a desviar a sua urgência externa de obstetrícia/ginecologia para outras unidades", até ao final de amanhã. E mantém-se, até às oito horas desse dia, os constrangimentos nas urgências do Hospital Beatriz Ângelo, em Loures.
Perante o sucedido, o bastonário da Ordem dos Médicos sublinha que "não têm obstetras suficientes" e, no geral, "falta capital humano e condições no SNS". Miguel Guimarães reclama incentivos para fixar profissionais. E lamenta a ausência de esforços para valorizar carreiras, para fazer investigação no tempo de trabalho e para acompanhar o privado na inovação, mas também no modelo de gestão, com "flexibilidade de horários". "O modelo está ultrapassado", criticou, defendendo a autonomia dos hospitais para gerir recursos e "orçamentos reais".
"Medidas vagas"
Noel Carrilho, presidente da Comissão Executiva da Federação Nacional dos Médicos, nota que os problemas são anteriores à pandemia, porém "não se criam condições para fixar" pessoal. "O problema é estrutural" e continuará, "enquanto os orçamentos do Estado não permitirem melhorar as condições de trabalho", disse. Já as promessas do Governo para a dedicação plena são "medidas vagas".
O presidente do Sindicato Independente dos Médicos, Roque da Cunha, avisa que "a situação irá agravar-se nos próximos três meses devido às férias" e por se atingir os limites de horas extraordinárias, cujo pagamento "é preciso melhorar". Avisa que o recurso a prestadores de serviços "não é solução", resultando na falta de pessoal ao fim de semana, e pede "mais investimento em salários, equipamento e formação".
Hospital de Santarém não recebe doentes politraumatizados
14934376
A Urgência do Hospital Distrital de Santarém não recebeu, no sábado, doentes politraumatizados, com fraturas expostas, ou mulheres a necessitarem de cuidados de ginecologia e obstetrícia. Hoje, o Serviço de Urgência de obstetrícia continuará sem atendimento em Santarém. Fonte hospitalar confirma a situação ao JN, justificando os constrangimentos com a "falta de médicos especialistas" para assegurar a Urgência e dando conta de que é um caso "pontual". Os doentes "não ficam sem assistência", garante ainda, sendo encaminhados para outros hospitais num trabalho de "articulação" entre a Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo e o CODU. Numa informação enviada aos bombeiros da área de influência do hospital de Santarém, a que o JN teve acesso, a direção da delegação Sul do INEM dá conta que a unidade está "com constrangimentos nos serviços de obstetrícia/ginecologia e ortopedia, não sendo possível receber doentes" até domingo.
Detalhes
Hospitais em rede
Até às oito horas de hoje, as urgências de ginecologia/obstetrícia de Lisboa Ocidental, Barreiro-Montijo e Garcia de Orta foram desviadas para outras unidades, nomeadamente para os centros hospitalares universitários de Lisboa Norte e Lisboa Central.
Chega pediu debate
Chega pede debate de urgência sobre "o caos " nos serviços de ginecologia/obstetrícia.
Montenegro critica
Montenegro diz que o SNS revela "sinais graves de degradação e gera desconfiança aos cidadãos", culpando o PS.
Aviso dos bombeiros
A Liga dos Bombeiros Portugueses pediu uma reunião "urgente" à ministra da Saúde, pois os problemas nas urgências "têm implicações diretas nos bombeiros".