Novas orientações de sociedade científica alargam grupos de risco, propõem rastreio e suplementação.
Corpo do artigo
Todas as pessoas com mais de 65 anos, os obesos, as grávidas e os bebés prematuros devem ser considerados grupos de risco para insuficiência de vitamina D e, portanto, tomar suplementos e monitorizar os níveis desta molécula no sangue. As novas diretrizes para a vitamina D alargam o âmbito da prescrição, face ao definido pela Direção-Geral da Saúde (DGS) em 2019, e reveem a evidência científica sobre os benefícios desta vitamina, que vão para além da saúde óssea.
As novas orientações do Grupo de Estudos da Osteoporose e Doenças Ósseas Metabólicas da Sociedade Portuguesa de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo (SPEDM) vão ser apresentadas amanhã num congresso e publicadas na revista científica daquela sociedade "em breve". O objetivo é que sejam acolhidas pela Direção-Geral da Saúde e esclareçam os profissionais de saúde, incluindo os médicos de família, neste problema que se estima que afete 66% da população.
Baseadas em estudos já publicados, as novas diretrizes recomendam a promoção de comportamentos que permitam inverter a insuficiência de vitamina D, nomeadamente a exposição solar diária moderada e uma dieta adequada, com peixes gordos, ovos, laticínios, entre outros. "O rastreio universal não está indicado e deverá ficar reservado para os grupos de risco", explicou, ao JN, Ana Pires Gonçalves, membro do grupo de estudos da Osteoporose e Doenças Ósseas, que apresentará as orientações.
Face à Norma 4/2019 da DGS, as principais alterações têm a ver com a abrangência dos grupos vulneráveis. Já não são apenas os idosos internados em cuidados continuados, sujeitos a fraca exposição solar e/ou com determinadas doenças ou história prévia de insuficiência de vitamina D, que devem fazer suplementação. "A partir dos 65 anos, está provado que o corpo tem menos capacidade de produção de vitamina D. Mesmo que vão à praia todos os dias, não chega", refere Mário Mascarenhas, coordenador do grupo de estudo que recomenda a suplementação permanente a partir daquela idade.
O médico endocrinologista explica que está provado que a vitamina D reduz a tendência para atrofia muscular que existe nos idosos e, consequentemente, diminui o risco de quedas e fraturas. Ainda nos grupos de risco, as novas diretrizes incluem os obesos - crianças e adultos - já que a gordura funciona como uma barreira para esta hormona.
suplementar alimentos
Está também provado que os bebés prematuros correm maior risco de défice de vitamina D. Assim como as adolescentes em amenorreia (sem menstruação), as grávidas e as mulheres a amamentar, acrescenta Ana Pires Gonçalves.
Nas crianças não há grandes alterações face à norma em vigor da DGS, refere a médica do Centro Hospitalar Universitário do Algarve, mas recomenda-se a avaliação e vigilância daquelas que apresentam valores próximos da insuficiência desta vitamina.
"Perante a dimensão do problema de saúde pública", Ana Pires Gonçalves defende um plano de suplementação, como já foi adotado nos países nórdicos, que passa por adicionar vitamina D aos alimentos.
66% da população tem défice
Um estudo para a população portuguesa revela que 66% têm deficiência de vitamina D, dos quais 21% têm deficiência grave, recorda a médica Ana Pires Gonçalves. Os estilos de vida, a fraca exposição solar e a alimentação, contribuem para os baixos níveis daquela hormona. O problema "é universal, existe mesmo nos países mais próximos da linha do equador" e atravessa todas as faixas etárias, sublinha a endocrinologista Ana Pires Gonçalves.
Excesso causa efeitos adversos
A máxima "nem 8 nem 80" também se aplica à vitamina D. O excesso de suplementação pode causar efeitos adversos a nível gastrointestinal e renais, e níveis elevados de cálcio no sangue que podem conduzir à obstrução das artérias.
Relação com doenças
A ciência tem estudado os benefícios da vitamina D para além dos já provados na saúde extraesquelética e algumas das evidências foram revistas pelo grupo de estudos da SPEDM. A relação daquela hormona com doenças como a esclerose múltipla, bem como a pré-eclâmpsia na gravidez são alguns exemplos.