Só este ano, foram vendidas mais de 725 mil embalagens de suplementos e fármacos, quase mais 25 mil unidades do que em 2021 e mais 74 mil do que em 2020.
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Só entre janeiro e setembro deste ano, foram vendidas nas farmácias portuguesas mais de 90 mil embalagens de suplementos de vitamina D. Se juntarmos as 634 360 unidades de medicamentos que têm a mesma vitamina na sua composição, os portugueses compraram, em nove meses, 725 mil embalagens daquela substância. O consumo da vitamina está a subir desde 2020 e não dá mostras de abrandar. Isto, depois de a Direção-Geral de Saúde (DGS) ter recomendado, em agosto de 2019 (após terem sido atingidos máximos na compra desta substância), que a prevenção da insuficiência de vitamina D não seja garantida através de fármacos.
Sem provas científicas irrefutáveis sobre os efeitos da vitamina no organismo e para regular a prescrição e o consumo, a DGS publicou uma nova norma sobre a "prevenção e tratamento da deficiência de vitamina D". No documento, refere que deve ser feita uma educação para a saúde, dirigida a crianças, adultos, idosos e cuidadores, para "prevenir a deficiência e insuficiência de vitamina D, com enfoque nas medidas não farmacológicas". No entanto, esta norma, que recomenda a exposição solar moderada e a ingestão de ovos e peixes gordos, não conseguiu travar o aumento da compra de suplementos e medicamentos.
Nuno Jacinto pede estudos
De acordo com o Centro de Estudos e Avaliação em Saúde da Associação Nacional das Farmácias, em 2020, de janeiro a setembro, foram vendidas 650 900 embalagens (64 mil só de suplementos que não necessitam de receita médica). Em 2021, no mesmo período, as vendas ultrapassaram as 700 mil embalagens (sendo 93 mil de suplementos). Já, este ano, o mercado da vitamina D voltou a crescer, com a comercialização de mais de 725 mil embalagens.
"Os números não surpreendem, mas, com exceção da osteoporose, não há estudos científicos que nos permitam saber se a vitamina D é fundamental ou não para o tratamento de doenças", disse, ao JN, Nuno Jacinto, presidente da Associação Portuguesa de Médicos de Medicina Geral e Familiar. "Normalmente, os médicos de neurologia, de reumatologia e de medicina interna são os primeiros a prescrevê-la e, depois, o médico de medicina geral e familiar, se concordar, continua a prescrição do medicamento", explica o clínico, que pede, com urgência, mais estudos sobre o tema. "A exposição solar deveria garantir a reposição das necessidades do organismo, mas, por vezes, surgem valores mais baixos no organismo".
Ema Paulino, presidente da Associação Nacional das Farmácias, tem outra opinião. "Se há deficiência de vitamina D, a suplementação é sempre positiva e as farmácias e os farmacêuticos estão capacitados para esclarecer a população", afirmou.
Dispensando a receita médica, o consumo dos suplementos de venda livre é o que mais sobe. Contudo, medicamentos com vitamina D, à base de colecalceferol, como o Deltius, Egostar, Molinar ou Vigantol (maioritariamente receitado a bebés), também estão em franco crescimento de vendas. "Enquanto não houver um forte investimento na investigação, salvo raras exceções, a prescrição da vitamina D vai depender da visão empírica do médico", finalizou Nuno Jacinto.
Contraindicações
Toma não é inócua e tem efeitos adversos
O excesso de suplementação de vitamina D, de acordo com a Direção-Geral de Saúde, pode causar efeitos adversos a nível gastrointestinal e renais, como a litíase e a insuficiência renal, e hipercalcemia. Alerta, ainda, que devem ser evitadas altas doses e por períodos prolongados, pois "não há qualquer evidência do seu interesse terapêutico".
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Efeitos do sol
De acordo com estudos científicos, somos capazes de produzir vitamina D quando a sombra é mais curta do que a nossa altura. É recomendável expor os braços e as pernas ao sol durante, pelo menos, 15 minutos por dia. As pessoas com mais de 65 anos, mulheres, grávidas, obesos e com pele mais escura possuem um maior risco de ter défice de vitamina D.
Alimentação
A alimentação só fornece cerca de 5% da vitamina D necessária ao nosso organismo. Os alimentos mais ricos são o leite, os ovos, os cereais e os peixes mais gordos, como a sardinha, a cavala e o salmão.