
Medicamento para a diabetes usado para emagrecer continua a esgotar
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A tentativa de perder peso tem levado à procura de medicamentos que estão indicados para outras doenças mas têm esse efeito, como é o caso do Ozempic (semaglutido), um antidiabético que é comparticipado. No ano passado, este medicamento representou, segundo o Infarmed, um encargo de 27,27 milhões de euros para o SNS, bem acima dos 7,53 milhões de 2021. Nos três primeiros meses deste ano, já foram gastos cerca de 5,08 milhões de euros, ainda assim menos do que em igual período de 2022, altura em que o SNS gastou 6,34 milhões.
O Ozempic ficou na moda após rumores de que Kim Kardashian e outras celebridades o usavam para emagrecer. A elevada procura em Portugal fez com que o Ministério da Saúde decidisse que os médicos têm de confirmar que se destina a tratar diabetes, procurando evitar usos indevidos e escassez no mercado. O Infarmed disse ao JN que "apesar da situação de escassez associada ao Ozempic decorrente de um elevado aumento da procura, existem outras alternativas terapêuticas disponíveis" para diabéticos.
Carlos Oliveira, presidente da associação Adexo, não estranha a procura. "Cerca de 80% das pessoas com obesidade grave têm problemas de diabetes tipo 2 e já estavam a tomar outro medicamento para a diabetes. É perfeitamente legítimo que queiram o Ozempic, que é melhor".
José Manuel Boavida, presidente da Associação Protetora dos Diabéticos de Portugal, relata o caso de um homem com diabetes que pesava 140 quilos. Com o Ozempic, perdeu 15 quilos num mês e "deixou a medicação para diabetes, hipertensão e colesterol".
pedem comparticipação
Segundo José Silva Nunes, presidente da Sociedade Portuguesa para o Estudo da Obesidade, espera-se que no futuro o Ozempic possa vir a ser indicado também para o tratamento da obesidade, mas com "outra dosagem". A sociedade é uma das entidades que luta pela criação de um "grupo farmacoterapêutico para a obesidade" em Portugal, o primeiro passo para que haja medicamentos comparticipados para tratar a doença.
A Adexo diz que "não se pode pensar unicamente na cirurgia (até porque as listas de espera rondam os três/quatro anos) como forma de tratamento, porque a maior parte da população não tem indicação para cirurgia e está à espera da comparticipação dos medicamentos que já existem e que são eficazes para impedir a evolução para obesidade mórbida e, consequentemente, para a cirurgia".
