No debate desta terça-feira entre forças sem assento parlamentar, discutiu-se um pouco de tudo, com apelos ao controlo de imigrantes ou mesmo deportação, medidas para habitação e saúde, e soluções polémicas no aborto. O Ergue-te fecha a campanha dia 16 no Martim Moniz. "Quero ver quem me vai impedir", desafiou o líder.
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A RTP foi o palco para o debate que juntou 12 candidaturas: PPM, JPP, Ergue-te, ADN, PCTP/MRPP, Volt Portugal, Nós, Cidadãos!, Nova Direita, RIR, MPT, PTP e Partido Liberal Social, este último criado há apenas dois meses.
Joana Amaral Dias, do ADN, foi a primeira a responder ao moderador Carlos Daniel e denunciou "o facto de a Assembleia da República se ter tornado no local do crime", considerando que "Portugal é um país corrupto". A propósito, insistiu no "saco azul intitulado de despesas excecionais que perfazem 10% da despesa do Orçamento", defendendo que "13 mil milhões de euros de orçamento fantasma" dariam para resolver vários problemas do país.
Nessa primeira ronda, Márcia Henriques, do partido Reagir Incluir Reciclar (RIR) fundado pelo Tino de Rans, apelou ao voto daqueles que tencionam abster-se nestas eleições legislativas antecipadas de 18 de maio. "Vamos representar quem ainda não se sente representado", defendeu.
Do JPP, Filipe Sousa, candidato pela Madeira, explicou em seguida que o lema do partido é ser a voz das ilhas de Portugal, mas não apenas as ilhas geográficas. "Acima de tudo, ilhas que compõem Portugal no seu todo: jovens que têm de abandonar o país porque não lhes dá oportunidades de emprego, idosos abandonados e marginalizados, a classe média empobrecida", exemplificou, defendendo uma matriz "humanista" para todo o território.
Pela Nova Direita, Júlio Gourgel Ferreira apresentou como bandeira a defesa das famílias que "são esmagadas", desde logo pela carga fiscal. "É possível criar riqueza para distribuir riqueza" e "não esmagar a classe média para distribuir às outras classes", defendeu.
"Revolução comunista" com saída da União Europeia
Em seguida, o candidato do PCTP/MRPP pelo Porto, João Pinto, afirmou que "cortar com a União Europeia é uma necessidade absoluta", defendendo uma "revolução comunista". "Quem toma as decisões em relação a este país é Bruxelas e Washington. O que se tem de fazer é cortar com isso", propôs.
Duarte Costa, co-presidente do Volt Portugal, apelou ao voto útil para "renovar a política" ao centro. E "o centro não se esgota no PS e no PSD", garantiu, destacando que "a renovação também não deve ir para os extremos". "Votar no Volt significa trazer uma nova energia à política portuguesa", assegurou.
"Lisboa ainda é nossa"
Foi depois a vez de Rui Fonseca e Castro, presidente do Ergue-te, referir que Portugal enfrenta "um problema existencial: "os portugueses estão a ser escorraçados da nossa terra, das nossas ruas, dos nossos bairros, das nossas cidades, do nosso país". E não perdeu a oportunidade para lamentar o facto de ter sido detido no passado dia 25 de abril, no âmbito da manifestação não autorizada que o seu partido promoveu. E deixou um aviso: "No dia 16, vou encerrar a minha campanha eleitoral no Martim Moniz e quero ver quem me vai impedir". "Lisboa ainda é nossa e comigo vai voltar a ser alfacinha", disse no debate.
Já o vice-presidente do MPT, Hélder Rodrigues, disse que este foi o primeiro partido a falar de desenvolvimento sustentável e de ambientalismo, temas "cada vez mais" atuais. Notou ainda que este partido, candidato pelas ilhas, é "de um centro político cada vez mais abandonado". Quanto ao posicionamento no território continental, justificou o apoio à AD com o facto de "acolher a maior parte das suas ideias".
"Acima de qualquer suspeita"
Pelo Partido Trabalhista Português, que apenas concorre na Madeira, a presidente Raquel Coelho disse que falta fazer "uma reflexão do país desde o 25 de Abril para cá". Quando "somos confrontados com eleições sucessivas", considera que "o mínimo que podemos exigir aos nossos representantes é que estejam acima de qualquer suspeita". Até porque "as pessoas já não acreditam na política". Criticou também o sistema judicial, notando as sucessivas investigações "que levam a eleições", mas não dão "em absolutamente nada" ou são demasiado morosas.
Joaquim Rocha Afonso, presidente do Nós Cidadãos, defendeu para o país "soluções viáveis e sensatas, economicamente sustentáveis e socialmente aceitáveis por todos os portugueses". E que "toda esta gente que nos desgoverna há tanto tempo meta a mãozinha na consciência", quando temos três eleições em quatro anos. Apelou ao voto dos indecisos, que "são a terceira maior força política" porque "os portugueses estão cansados deste ram-ram". Defendeu ainda "acordos de regime" para soluções a longo prazo.
Círculo de compensação como nos Açores
Para Paulo Estevão, secretário-geral do Partido Popular Monárquico (PPM), é "escandaloso" que não haja no continente, como existe nos Açores, um "círculo de compensação em que todos os votos contam" para evitar "o desperdício dos votos dos portugueses". "Quase um quarto dos votos é desperdiçado". Este sistema não é democrático em Portugal", alertou.
Seguiu-se José Cardoso, presidente do Partido Liberal Social (PLS), que se estreia após ter sido criado "há 55 dias". "Não somos um partido de protesto", destacou, considerando que, apesar de ter nascido há cerca de dois meses, o PLS fez um "trabalho prévio" com vista a "encontrar soluções e estratégias para a população portuguesa". "Apresentamos um programa com visões estratégicas para o país e menos um somar de propostas porque acreditamos que o que falta no país é estratégia", declarou.
Na ronda de perguntas sobre políticas públicas, houve várias propostas novas mas também polémicas, que incluem os programas divulgados pelas respetivas candidaturas.
A propósito do apagão da semana passada, Hélder Rodrigues, do MPT, referiu que o problema não foi "uma aposta demasiado acelerada", mas sim "uma aposta inconsequente nas energias renováveis", sendo uma questão de "planeamento e gestão". Desde logo, defendeu que "a rede de distribuição de energia nunca deveria ter sido privatizada".
Entre vários dossiês, destaca-se por exemplo a defesa da descentralização e de uma regionalização "responsável e faseada" por parte do PPM.
ADN quer fim do pagamento da IVG no SNS
Na Saúde, Carlos Daniel questionou Joana Amaral Dias sobre a proposta de "fim do aborto pago pelo Estado no SNS". Na resposta, a candidata criticou a Interrupção Voluntária da Gravidez (IVG) "sem razão clínica, nem médica". E notou que "há mulheres estrangeiras a fazer isso no SNS".
"Nem mais um cêntimo para estrangeiros enquanto existir um português com fome", afirmou depois. "Portugal aos portugueses e sempre os portugueses primeiro", reforçou logo de seguida.
Ainda sobre a proposta do ADN para o fim do pagamento da IVG no SNS, disse que foi "mãe de três filhos". E, "quando a IVG foi aprovada não existia uma série de instrumentos que agora existem à disposição das mulheres", argumentou.
Joana Amaral Dias defendeu ainda que "precisamos de mais bebés", mas "portugueses".
A habitação foi outra área em destaque, por exemplo, com Júlio Gourgel Ferreira, da Nova Direita, a defender a construção modular como solução para resolver esta "emergência nacional". Este partido defendeu ainda que "se deve dar prioridade à lusofonia" no acolhimento dos imigrantes, para além de vermos as áreas onde são necessários.
Líder do Ergue-te discorda de proposta do seu partido
Já o presidente do Ergue-te, partido ultranacionalista de extrema-direita, quer que sejam deportados imediatamente "todos os imigrantes, não apenas os criminosos, não apenas os que estejam ilegais, todos os que não estejam a trabalhar", e deu o Brasil e o Dubai como exemplos a seguir.
Carlos Daniel questionou o presidente do Ergue-te sobre a proposta de ilegalizar os sindicatos. Rui Fonseca e Castro demarcou-se da própria medida, dizendo que está no programa do partido, mas que não concorda. "Nem sempre saio vencedor nas decisões da Comissão Política Concelhia", alegou, para espanto dos outros participantes.