Jorge Moreira da Silva Candidato defende que PSD não pode ter um "líder de protesto" e que tem de liderar reformas a partir da Oposição.
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Jorge Moreira da Silva defende que o PSD não pode ter um "líder de protesto". Até porque acredita que existe o risco real de legislativas dentro de dois anos. O candidato quer pôr o partido a liderar reformas, a partir da Oposição, e a causar, assim, embaraços ao PS. Caso ganhe a liderança do PSD, o ex-ministro assume que mantém Paulo Mota Pinto à frente da bancada e votaria contra a eutanásia.
O que o levou a deixar um cargo como o de diretor da OCDE para concorrer à liderança do partido?
Num momento tão importante para o partido e para o país, as pessoas, que têm alguma vocação política e uma visão, têm de se apresentar. Muita gente dizia que era melhor esperar dois anos, deixar ir alguém para desgastar António Costa e o PS, mas não julgo que se deva andar a fazer contas de cabeça. Precisamos de aproveitar os quatro anos de Oposição para nos prepararmos para governar.
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E o PSD vai estar quatro anos na Oposição? Não teme que o primeiro-ministro vá para Bruxelas?
Essa é uma questão central. Seria sempre candidato, mesmo se estivesse convencido de que a legislatura demoraria quatro anos, porque são importantes para o PSD se refundar, resolver problemas estruturais, atualizar as linhas programáticas, abrir-se, modernizar-se, criar condições para um projeto alternativo. Mas a verdade é que existe mesmo o risco de termos eleições mais cedo, daqui a dois anos. O presidente da República, aliás, sublinhou esse risco. Isso significa que o PSD tem de fazer o exercício essencial, que é perguntar-se quem está mais bem preparado simultaneamente como líder da Oposição e como potencial candidato a primeiro-ministro. Estou de consciência absolutamente tranquila. Se o PSD fosse um partido de protesto, bastava ter um líder de protesto. Mas é um partido de aspiração maioritária. As pessoas estão cansadas da politiquice, da política superficial, do soundbyte, de uma lógica meramente propagandística, do bota-abaixismo, de dizer mal de tudo, sem projeto, sem propósito, sem alternativa.
Que não se faça discursos cheios de oratória, mas vazios de conteúdo...
Sim, porque quando um contrato social não funciona, as pessoas querem é políticas concretas que imponham resultados. Temos de pôr a economia a crescer, temos de acabar com a conversa das bazucas e do dinheiro europeu como o alfa e o ómega da solução dos nossos problemas. Nenhum empresário se queixa da falta de financiamento. O que se queixa é da falta de reformas, da justiça, do licenciamento, da educação, formação profissional. Quer que se crie o ambiente certo para o investimento. Esse é um desígnio que o PSD deve assumir. Temos de dar mais autonomia às escolas, ter um sistema de saúde em que os promotores concorrem pela qualidade, dar liberdade de escolha, mesmo no público. E precisamos de descarbonizar a sociedade, criar coesão territorial, combater a corrupção e as desigualdades sociais, promover a transparência.
Outro problema que fala na sua moção é o afastamento dos cidadãos da política. Rui Rio tentou agendar diplomas para a revisão da Constituição e da lei eleitoral. Não se opôs, ao contrário do seu adversário. Porquê?
Primeiro, porque é uma reforma urgente. Segundo, porque não gosto de fazer política de terra queimada. Uma coisa é querer refundar o partido, outra é não tirar partido do que vem de trás. Ainda que tenha uma leitura diferente da de Rui Rio, porque considero que é preciso ir além do sistema eleitoral onde defendo círculos uninominais, considero que a proposta que foi feita é válida, importante, positiva. Vai no bom sentido, até porque causa embaraço a António Costa. É preciso mudar também o sistema político, para que todas as propostas tenham uma avaliação de custo versus benefício. Defendo o alargamento do voto em movimento, do voto antecipado, a introdução do voto eletrónico, normas mais restritivas quanto às obrigações declarativas dos titulares de cargos públicos e políticos, a introdução de referendos locais. A pergunta que se tem de fazer ao PS, e sabendo que esta é uma prioridade do PSD, é se está ou não disponível para participar neste processo.
Apesar de não ser reformista, o PS acabou por ter uma maioria absoluta...
Seria uma falta de respeito para com os portugueses dizer-lhes que se enganaram. Para o PSD ser novamente portador de esperança, tem de liderar reformas, logo a partir da Oposição. Um país que tem tudo para vencer não se pode resignar em estar numa posição muito baixa em todos os indicadores. Porque é que a Holanda, Dinamarca, Finlândia, Irlanda, Luxemburgo ou Suíça estão em posições muito superiores à nossa, dispondo de menos recursos? Porque assumiram que governar é reformar com estabilidade. Não é mudar quando se altera o Governo. Andamos com politiquice a mais em Portugal.
Se for eleito, mantém Paulo Mota Pinto na liderança da bancada?
Foi eleito com uma maioria esmagadora, o que significa que tem obviamente toda a legitimidade. Não é na São Caetano à Lapa que se diz quem vai ser líder parlamentar. São os deputados que tomam essa decisão.
E como se posiciona face à eutanásia e ao pedido de referendo?
Considero que um debate destes deve ser feito através de um referendo. Os deputados não estão mandatados para uma decisão que nunca foi colocada aos eleitores nas legislativas. Como votaria? Neste momento, votaria contra a eutanásia. Não estou minimamente seguro de que as disposições que foram apresentadas correspondam à salvaguarda de todos os interesses e espero que este debate sirva de vez para que Portugal aposte a sério nos cuidados paliativos.