Foram muitos, muitos milhares. A PSP chegou a admitir, ainda a Marcha Pela Escola Pública não tinha chegado aos Restauradores, que estariam entre "30 mil a 40 mil manifestantes". Já o S.TO.P garante ter feito um protesto "histórico", o "maior do século XXI", com "mais de 100 mil pessoas" a encherem o Terreiro do Paço, adesão há muito não conseguida pelos sindicatos de professores.
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A demissão de João Costa foi pedida diversas vezes. No discurso final, o líder do S.TO.P, André Pestana, defendeu que o ministro da Educação "faz parte do problema e não da solução", levando os manifestantes a gritar "demissão, demissão". António Costa e Fernando Medina não foram poupados a apupos. E o aviso foi feito: se durante as reuniões da próxima semana não houver recuos, os protestos regressam.
"Respeito", "a escola está em luta", "não paramos" ou "investir na Educação é uma obrigação", foram apenas alguns dos muitos slogans. Cinco horas de manifestação marcadas por um barulho ensurdecedor constante, de apitos, bombos e gritos "de revolta", repetiram muitos ao JN, garantindo: "Estamos fartos, não vamos parar".
"É necessário um sindicalismo diferente, sem amarras ao poder, sem medo de realizar lutas e decidi-las democraticamente", defendeu André Pestana perante um Terreiro do Paço cheio.
O líder do S.TO.P defendeu um aumento de 120 euros para todos os profissionais da Educação, o fim das quotas na avaliação, das vagas de acesso ao 5.º e 7.º escalões, a recuperação integral do tempo de serviço e o fim da precariedade.
Desde o arranque da manifestação, cartazes e slogans insurgiam-se contra as suspeitas de ilegalidade da greve que levaram o ministro da Educação a mandar a Inspeção-Geral da Educação para as escolas e a pedir pareceres jurídicos. Aos jornalistas, André Pestana defendeu que o ministro "não é um tribunal" para julgar a legalidade ou classificar de "desproporcional" uma greve, quando os professores são submetidos "a condições de trabalho agressivas e desproporcionais".
deixar um legado
Assim que ouviu o ministro a classificar as greves de "desproporcionais", Marina Pinheiro fez o cartaz que levou ontem para a manifestação: "Um professor vale mais do que dez políticos elevados ao infinito". A professora de Matemática tem 27 anos de serviço, está no 5.º escalão e "sabe que nunca chegará ao topo", mas luta, diz, para que os alunos "sejam esclarecidos e não acreditem que há médicos a abandonar o bloco para irem buscar os filhos que ficaram sem aulas por causa da greve. É mentira", disse, referindo-se a um exemplo dado por João Costa.
Maria José Patraquim está a cinco meses da reforma, mas não deixou de ir à manifestação pela próxima geração de docentes. "É um legado triste", diz, referindo-se à burocracia "cada vez mais pesada" e ao deteriorar da carreira. "Já não acredito nas negociações mas a dimensão dos protestos dá-me esperança", frisa.
As líderes do BE e do PAN, Catarina Martins e Inês Sousa Real, foram prestar apoio à luta dos professores. Foi Garcia Pereira, advogado que fez pareceres para o S.TO.P e antigo líder do MRPP, a discursar do palco móvel para defender que a contestação dos docentes "é mais do que justa, contra a arrogância e a política de terror e de medo".v
O coordenador do sindicato S.TO.P, André Pestana, assegurou que "mais de cem autocarros com professores" que se dirigiam para a manifestação, em Lisboa, foram "revistados" pelas autoridades. Em comunicado, a GNR admitiu que, no âmbito da atividade diária na estrada, possam ter sido "aleatoriamente fiscalizados veículos pesados de passageiros", mas garantiu que "não corresponde à verdade" que visassem as "deslocações de professores". Já a PSP desmentiu, à Lusa, ter "fiscalizado os veículos em que os manifestantes se fizeram transportar".