Os autarcas estão a apostar este ano no reforço da sinalética em rios e albufeiras, esperando que os turistas evitem as zonas não vigiadas. Num mês, morreram nove pessoas.
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A pandemia vai levar este ano, de novo, muitos portugueses a procurar zonas fluviais no interior com e sem vigilância, rios ou barragens, onde encontram a distância física difícil de manter no litoral, mas onde o perigo de afogamento é grande. Com isto em mente, muitos municípios reforçaram a sinalética de perigo nessas zonas, esperando que os turistas não frequentem as que não têm vigilância.
Fernando Queiroga, membro do Conselho Diretivo da Associação Nacional de Municípios Portugueses, afirma que "a maior procura desde o ano passado pelas praias do Interior levou os municípios a reforçarem a sensibilização nas zonas perigosas suscetíveis de maior procura por terem, por vezes, pequenos areais". O também presidente da Câmara de Boticas fez isso nas margens dos rios do concelho. "Ainda assim, as pessoas continuam a frequentar aqueles espaços", lamenta.
O reforço de pessoal nestas zonas é impossível, "tanto do ponto de vista de recursos humanos, como financeiramente", afirma. A interdição é ilegal, já que "as margens dos rios são zonas públicas com livre acesso".
Nove mortes num mês
No espaço de um mês, de acordo com dados provisórios do Observatório de Afogamento da Federação Portuguesa de Nadadores Salvadores (FEPONS), morreram nove pessoas em zonas não vigiadas do Interior e consideradas perigosas, como rios e barragens. Para Alexandre Tadeia, presidente da FEPONS, "os portugueses não têm noção quando procuram uma praia, não se importam se não é vigiada e vão à água sem cautelas". A esse comportamento, junta-se o que o nadador-salvador caracteriza como "a sobrevalorização da capacidade de natação", o que está na base dos afogamentos em zonas não vigiadas no Interior.
"As pessoas sobrevalorizam a sua capacidade de natação, às vezes, nadam até zonas sem pé e não têm capacidade para voltar". "Além disso, há correntes e fundões nos rios que levam a um agudizar do problema", acrescenta Alexandre Tadeia.
Para Fernando Queiroga, a maior procura pelo Interior é benéfico para a economia local, mas, tal como Alexandre Tadeia, considera que deve haver por parte dos turistas uma "maior consciência". "Continuamos a ver pessoas que, além de subvalorizarem os perigos de correntes ou fundões, vão ao banho quando estão a fazer a digestão, ficam aflitos e não têm quem as socorra", prossegue.
O autarca apela a que a população escolha praias vigiadas por nadadores-salvadores. No interior do país, a época balnear começa em regra no final de junho, mas muitas já têm assistência a banhistas desde meados do mês.
Nos primeiros três meses do ano, de acordo com dados do Observatório de Afogamento, morreram 12 pessoas em praias por todo o país. O número é inferior ao do mesmo período do ano passado, 16 mortes.
Saiba mais
Piscinas
A Associação para a Promoção da Segurança Infantil alerta para o redobrar da atenção dos pais de crianças até quatro anos nas piscinas. "Tendo em conta as restrições no acesso à praia, é previsível que as famílias optem por piscinas, aumentando significativamente o risco de afogamento", considera a APSI.
Praias mais cheias
As praias têm este ano maior capacidade: O semáforo de acesso fica vermelho nos 90% de lotação. No ano passado era nos 66%.
Mais areais fluviais
Arganil é o concelho com maior número de praias fluviais vigiadas: 10, três delas com bandeira azul.