Até setembro, realizaram-se mais 3037 testes do pezinho face a 2021. Ano deverá fechar acima dos 80 mil, após quebra histórica.
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Depois do adiamento da maternidade em 2020, provocado pela incerteza que a pandemia trouxe ao Mundo, os nascimentos continuam a recuperar neste ano. Nos primeiros nove meses foram estudados 62 001 recém-nascidos, no âmbito do Programa Nacional de Rastreio Neonatal, num acréscimo de 5% face a período homólogo do ano passado. São, em média, mais 11 bebés por dia. Antevendo as demógrafas ouvidas pelo JN que fecharemos o ano novamente acima dos 80 mil nascimentos. Isto depois de, no ano passado, termos ficado abaixo daquele valor, o que não acontecia há, pelo menos, 60 anos.
Os dados facultados ao JN pelo Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA) dão, assim, conta de mais 3037 rastreios feitos até setembro. Numa análise territorial, só Beja, Faro e Açores continuaram a ver o número de nascimentos baixar, sendo que Guarda igualou [ver infografia]. E, sem surpresas, Lisboa respondeu por 30% dos testes do pezinho realizados e o Porto por 18%. Seguindo-se Setúbal (7,7%) e Braga (7,6%).
Apesar da recuperação face a 2021, o número de rastreios está ainda longe dos valores registados em pré-pandemia: face aos primeiros nove meses de 2020 e 2019 contam-se, respetivamente, menos 2389 e 3164 recém-nascidos testados. Um valor próximo do agora registado verificou-se em 2015, com 62 990 rastreios. E o regresso a valores na casa dos 90 mil nascimentos não é, de todo, expectável, segundo a demógrafa Maria João Valente Rosa.
Para quem os dados agora conhecidos não surpreendem, porque referem-se já "a um período de maior calma em relação à pandemia".
Baixa natalidade e as crises
Depois do "período crítico" vivido em 2020 e que levou a um "adiamento deste projeto, associado ao medo". Mas ao efeito conjuntural, há o estrutural, de difícil resolução.
Se tudo indica que "no final deste ano o número de nascimentos seja superior ao de 2021 (79 582), o certo é que "não devemos esperar que venha a ser muito elevado e volte a atingir valores próximos dos 90 mil". Simplesmente porque, diz Maria João Valente Rosa, "há cada vez menos mulheres que vão chegando ao período fértil", num fenómeno geracional.
Estando o futuro dependente das migrações, "jogando-se em função do número de pessoas a chegar ao país nas idades mais férteis". No ano passado, refira-se, 13,6% dos bebés que nasceram em Portugal eram filhos de mães estrangeiras, quando dez anos antes eram apenas 10%.
Também a demógrafa Maria Filomena Mendes identifica nestes números "uma inversão de tendência, mas não uma recuperação significativa de valores que permita dizer que voltamos aos que tínhamos antes da pandemia". E o futuro será também ele uma incógnita, na medida em que "as crises impactam sempre nas decisões das famílias".
Sendo que o atual contexto que se vive na Europa, segundo a também professora da Universidade de Évora, "implica uma insegurança e uma incerteza face ao futuro nos jovens casais". Que podem optar por continuar a adiar o projeto de vida de serem pais.
A saber
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Quebra histórica
No ano passado, o número de nascimentos ficou abaixo dos 80 mil, naquele que foi o valor mais baixo, pelo menos, dos últimos 60 anos.
Teste do pezinho
Os dados do INSA reportam ao número de recém-nascidos estudados no âmbito do Plano de Rastreio Neonatal, não correspondendo, assim, ao número de nascimentos, que é calculado pelo INE com base nos registos das conservatórias.
INE confirma subida
Até agosto, o número de nados-vivos, avançado pelo INE, subiu 3,3% para os 53 954. Nesse período, o INSA reportou 54 022 testes do pezinho.